Literatura é um direito de todos e “instrumento poderoso de instrução e educação”.
Esses pensamentos de Antonio Candido (2004) são referências ao pesarmos a importância que a
literatura tem na vida de todos. Em um mundo globalizado, fragmentado, de incertezas e
indagações no campo educacional, ela surge como resistência, como libertação. Atividade
racional e emocional, capaz de quebrar paradigmas e transcender o mundo das urgências
cotidianas, a literatura, desde Platão, é questionada por seu potencial reflexivo e crítico, motivo
por que o acesso a ela é cada vez mais escasso. Em vista disso, a escola deveria ser um dos
ambientes a conceder esse direito, tendo o professor como mediador. Entretanto, o texto
literário ocupa espaços diminutos ou é a condição de pretexto para o ensino de conteúdos
específicos, como a gramática ou as técnicas de redação. Muitos docentes estão preocupados em
sintetizá-los e reproduzi-los para exames vestibulares e, muitas vezes, não acreditam na
capacidade de seus alunos. Na verdade, na maioria das vezes, os estudantes são vistos como um
receptáculo, seres passivos que devem obedecer, seguir todas as instruções de seu professor,
sem ter o direito de opinar, discordar ou apresentar outras possíveis leituras e interpretações. É
postergado que estes deveriam ser os protagonistas, seres ativos, capazes de criticar, criar,
produzir, inquirir, de renovar ou até mesmo quebrar os padrões e normas enraizados
concernentes à educação. Pretendemos, então, refletir sobre o fato de que a literatura não é
apenas um instrumento para outros fins e planear métodos para aproximar os alunos dos textos
literários. Queremos mostrar como ele pode ser planejado e trabalhado na sala de aula, as
possibilidades de reflexão, crítica e os seus benefícios. Além disso, almejamos evidenciar a
importância do papel do professor como mediador entre o leitor e a obra literária e ratificar que
o aluno deve ser o protagonista nessa construção de sentidos do texto. Desse modo,
apresentaremos alguns resultados obtidos com nossa atual pesquisa que tem por foco o
estabelecimento de métodos de seleção dos textos literários, leitura em sala de aula e análise dos
resultados. O projeto está pautado na elaboração de questões epilinguísticas, conforme proposto
pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa (1997), para incitar a
reflexão sobre o texto e seus recursos expressivos. Cada encontro foi gravado em áudio para
posterior análise de conteúdo e verificação da qualidade de leitura dos alunos, sendo que para
isso utilizamos o método quantitativo e qualitativo proposto por Laurence Bardin (1977).