Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
María Moreno, escritora-crônica
MIRIAM VIVIANA GÁRATE (Unicamp)
Ao longo de cinco décadas de atuação na imprensa periódica argentina María Moreno produziu um sem-número de colunas nas quais exerceu o “cartonerismo epistemológico” (a bricolagem de teorias e conceitos), o plágio e o autoplágio declarados (a apropriação de escritos de terceiros e a reciclagem dos próprios), o fraseado neobarroco/neobarroso (a sintaxe ziguezagueante, avessa à conclusão, na qual se revezam termos cultos e dizeres plebeus). Dessas folhas periódicas dispersas surgiram muitos dos títulos publicados a partir de 2001, textos que desestimam a “voluntad de obra” e afirmam seu caráter circunstancial, transitório, aberto (“¿por qué publicar la saliva? Pues porque no habrá obra” (2002), afirma Moreno. E acrescenta: “ya avisaré cuando escriba un libro”). Embora o traço subjetivo estivesse presente desde sempre, é a partir de Vida de vivos (2005), como assinala Sabo (2018), que o material previamente publicado passa a ser manipulado e reescrito em textos que gravitam acentuadamente em torno de rememorações pessoais. Três títulos dos últimos anos se destacam nesse conjunto: Black out (2016), recorrentemente comparado aos Diários de Emílio Renzi (Piglia, 2015); Oración, carta a Vicky y otras elegías políticas (2018), releitura das cartas redigidas por Rodolfo Walsh e de seu método de escrita; Contramarcha (2020), volume que integra a coleção Lectores, de Ampersand, destinada a refletir sobre as leituras, as bibliotecas e os arquivos de diversos autores, segundo a coordenadora da série. Em que medida esses três títulos esquivam-se da armadilha da totalidade e da obra (da obra como totalidade) e perseveram numa estética do processo e da abertura ao por vir? Através de quais procedimentos ensaiam operações que anarquivam o arquivo da literatura argentina propondo outras chaves de sentido, outras genealogias e comunidades possíveis? A comunicação buscará explorar algumas dessas questões e as tensões insolúveis que habitam esses textos.
Palavras-chave: María Moreno; reescrita; literatura argentina
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