Em narrativa incomum, em que o entrecho realista está submetido às (criativas)
variações de consciência do narrador-protagonista, Joca Reiners Terron parte de convenção
literária banalizada na produção brasileira contemporânea – a da autoficção – para tentar, sob tal
gênero de conformação biográfica, empreender fuga inovadora e crítica. O pesadelo traçado
passo a passo pelo romance, em que o leitor, de modo paradoxal, melhor percebe a concretude
da história, é tanto realização literária de uma imaginação sensível quanto refazimento
formativo de tal imaginação. Transcende-se a mera peripécia egoica do “eu-escritor” para, na
larga forma do romance, estipular o sedimento histórico e o alcance de uma vocação criativa.