Uma adolescente de 14 anos, após ter a intimidade exposta em um vídeo que circulou
por celulares é expulsa de casa pelos pais e acaba sendo conduzida a uma trama vertiginosa de
violências, as quais listam-se: abuso e prostituição infantil, narcotráfico, tráfico humano,
corrupção política e policial e miséria social. Ao drama de Janalice, conectam-se o de Manoel
Coutinho, imigrante angolano, que busca vingar a morte da jovem esposa assinada por “ratosd’água”,
e o de Préa, garoto que após o assassinato do pai assume a liderança de um bando
criminoso no Marajó (PA). A violência desenfreada narrada na obra pode levar o leitor mais
incauto a inferir que a Amazônia é uma região infernal, primitiva, bárbara e incivilizada; cujo
paradigma em torno das narrativas amazônicas se estabelece com Euclides da Cunha (1866-1909)
nos escritos ensaísticos de À margem da história (1909) e que posteriormente passaram a
integram a coletânea Um paraíso perdido: ensaios amazônicos (1976). Contudo, a história da
região, desde a chegada dos primeiros europeus até os dias atuais, está marcada pelo assédio,
principalmente, do capital. Com efeito, vista a partir do ponto de vista rentável, a Amazônia possui
uma trajetória de perdas e danos (LOUREIRO, 2002) regida pelos mandos e desmandos do
liberalismo econômico; o qual determina o destino da região a partir de ideias que desconsideram
as especificidades dos habitantes da floresta tropical. Diante disso, o presente trabalho tem por
objetivo expor como o enredo do romance de Edyr Augusto, Pssica (2015), está estruturalmente
organizado no intuito de evidenciar a ligação entre os problemas individuais das personagens e
os problemas históricos da Amazônia. Pois, a progressão da ação narrativa e do conflito dramático
do romance acompanham a ampliação do espaço que parte do restrito, especificamente, a cidade
de Belém, passando por Breves, Soure e Muaná (na ilha do Marajó), indo em direção à Pan-
Amazônia, precisamente, a cidade de Caiena, capital da Guiana Francesa.
Palavras-chave: Pssica; Edyr Augusto; Amazônia; Literatura brasileira contemporânea.