Em decorrência de um processo de colonização de mais de três séculos e que ainda hoje perdura, embora não mais das mesmas matrizes, do ponto de vista econômico e cultural, os intelectuais da América Latina sempre tomaram idéias e instituições européias como paradigmáticas e buscaram internalizar a visão de mundo desses povos. Desse modo, o ensino e a pesquisa da Literatura nas universidades latino-americanas ateve-se na maioria das vezes aos modelos europeus: primeiro através do historicismo e, mais tarde por meio das correntes teóricas, em especial de cunho imanentista, que emanavam daquele contexto. Em ambos os casos, a idéia de literatura nacional constituía uma referência dominante e o estudo da literatura centrava-se no cânone de cada país, erigido em bases nacionalistas. Entretanto, com o advento da Desconstrução e dos Estudos Culturais e Pós-Coloniais na segunda metade do século XX, esses modelos foram amplamente questionados, dando lugar a uma tensão entre os estudiosos que defendiam o conceito hegemônico de nação e o estudo da literatura como a expressão do espírito nacional, de um lado, e os que passaram a abordar a literatura como uma entre as muitas expressões da afirmação política de cada grupo que compõe o mosaico étnico, cultural, social e linguístico do continente, de outro lado. Com base nas críticas que têm sido feitas atualmente tanto à construção hegemônica de estados-nações quanto às respostas daí resultantes, sobretudo da parte dos chamados “grupos minoritários”, teceremos, neste trabalho, alguns comentários sobre o ensino da literatura e sobre a produção de histórias literárias nos dias de hoje na América Latina.