GIOVANNA DE SOUZA CORBUCCI (Universidade de São Paulo (IEB-USP))
Este trabalho tem como objetivo refletir sobre o período em que Mário de Andrade viveu no Rio de Janeiro, chamado de “exílio” por seu amigo e correspondente Moacir Werneck de Castro (1989). O autor de Macunaíma residiu na capital federal de 1938 a 1941, no contexto da implantação da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas e da consolidação do nazifascismo, que culminou na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Pessoal e publicamente, no que pode ser lido a partir das cartas enviadas no ano de 1938 pelo polígrafo, busco compreender as motivações - principalmente a saída da diretoria do Departamento de Cultura de São Paulo - e os impactos que a mudança de cidade neste momento histórico deixaram sobre sua vida, considerando as experiências que teve na Guanabara. Para isso, procuro maneiras de reconstruir aspectos de sua biografia a partir de seu arquivo - sobretudo de fragmentos deixados nas cartas, gênero lacunar, inacabado, que Mário de Andrade experimentava com maestria.
Desse modo, investigo até que ponto é possível construir uma imagem deste ano conturbado de sua vida a partir de fragmentos heterogêneos deixados nas missivas publicadas, posto que o autor tinha múltiplos interlocutores e fabricava, no diálogo com cada um, diferentes personae. A própria carta, para ele, já era um espaço de performance, figuração. Articulo, portanto, biografia, ficção e história, a partir das lacunas de seu arquivo, para pensar rupturas vivenciadas pelo escritor neste momento tão decisivo em sua trajetória pessoal e intelectual.