Um dos legados dos estudos pós-coloniais caracterizou-se pela noção de que a
produção de literatura de países africanos após o período colonial fosse compreendida como uma
expressão de resgate de representação mais genuína de um universo social, histórico, linguístico
e cultural não mais mediada por uma estética eurocêntrica. A partir dessa premissa, o presente
trabalho pretende examinar o romance O mundo se despedaça (Things fall apart, 1958) de Chinua
Achebe, como uma leitura desviante da representação do sujeito africano do romance de Joseph
Conrad, O coração das trevas (Heart of darkness, 1977). A hipótese de leitura a ser investigada
centra-se no argumento de que, embora o romance de Achebe insista em se inscrever em uma
matriz literária mais africana que européia, no que tange sua estrutura diegética, ele não se
distancia de uma tradição literária ocidental de representação realista pela literatura. Em sentido
oposto, observamos que é justamente sobre a impossibilidade de representação do sujeito que se
circunscreve o tema central do romance de Conrad. Para tanto, partiremos de um estudo
bibliográfico, exploratório e analítico, tomando como embasamento teórico os postulados de
Compagnon (1999) acerca do caráter mimético ou anti-mimético da literatura, relacionando-a
com discussões de Tolstoi (1898) e Goodman (1977), que abordam a finalidade e as possibilidades
da expressão literária.