A crítica literária contemporânea assinala que um dos impasses na formulação do
conceito sobre literatura contemporânea advém justamente da pluralidade que caracteriza a
produção literária hodierna, marcada por estruturas disformes e complexas tanto na prosa
(romances) quanto na poesia. Tal indecidibilidade, para usar um termo derridiano, pode ser
pensada como um dos sintomas de constante de renovação formal/temático e teórico/analítico,
configuradores seja da produção literária contemporânea ou mesmo da crítica que instaura essa
última, apontando para uma dimensão do invisível, ou mesmo do escuro, como bem observa
Agamben. Nesse sentido, compreender a problemática da dilatação dos limites do acontecimento
literário requerer, sobretudo, também refletir acerca do próprio status quo da crítica literária
contemporânea. Contudo, a própria época lança suas alternativas de procedimentos de leitura: o
advento do fenômeno dos vlogs parecem encarnar uma forma de processo de mediação entre os
textos e seus respectivos leitores, que, contrário os procedimentos convencionais da crítica
literária institucional, prefere abrir mão do emprego de métodos e procedimentos interpretativos
de base teórica/metodológica, recuperando uma forma de crítica impressionista mais próxima da
experiência do leitor não especializado. É a partir de essa premisse que essa comunicação pretende
examinar o fenômeno dos Vlogs, mais especificamente o canal Ler Antes de Morrer da jornalista
Isabella Lubrano, a fim de examinar quais discursos autorrefentes de leitura da vida e de mundo
são conjugados a partir da experiência de leitura e de crítica literária, as quais aos poucos têm
ganhando forma e conteúdo fora do ambiente acadêmico, bem como também sentido e
consistência entorno do eu, porém, não de qualquer eu, mas do eu leitor exímio constituído pela
própria experiência com os livros, com outros leitores e com os produtos gerados pelo próprio
vlogueiro.
Palavras-chave: Crítica literária; Literatura contemporânea; Vlogs