Inspirado no poema “Fantômes” em Les Orientales (1829), de Victor Hugo, e na
descrição da lenda das Willis feita por Henrich Heine em uma passagem de De l’Allemagne
(1855), Giselle é considerado a epítome do balé romântico. Em Giselle, são salientados temas
como a fuga para a natureza, representada pela idealização da vida no campo, a dicotomia entre
o real e o sobrenatural e a idealização da figura feminina como ser etéreo e inalcançável.
Embasado na obra de Cyril W. Beaumont (1944) e Marian Smith (2010) sobre a concepção e
repercussão do balé Giselle e à luz da definição do gênero gótico, partindo da Literatura, como
visto em Fred Botting (1996) e levando em conta a subdivisão do gênero no chamado Gótico
Feminino, como proposto por Ellen Moers (1976), este artigo tem como intenção propor uma
nova interpretação de Giselle. Não mais um conto trágico, serão explorados os elementos que
tornam o balé Giselle uma narrativa gótica que expõe as tensões sociais surgidas após a
Revolução Francesa, e que permeiam todo o século XIX, e a latente influência de uma
sociedade fortemente patriarcal no destino de Giselle.