Este trabalho visa a analisar uma obra de Tatiana Salem Levy, A chave de casa, com vistas a
refletir sobre a autoficção feminina, observando como o processo de escrita contribui para a
reconfiguração identitária da personagem, não nominada do romance. É a partir da escrita que a
personagem enfrenta os seus fantasmas; dialoga com os mortos, ressignifica o seu
passado/presente; repensa sobre o peso da tradição judaica; reflete sobre a condição do imigrante
em terras estrangeiras. É na/com a escritura que o passado vem ao presente, modificado, alterado,
embaralhado. O leitor é levado a compreender a trajetória de vida da personagem e de sua família
a partir de rastros, lacunas e ausências de informações. O leitor deve se posicionar, diante do
texto, como um investigador – ele junta os cacos das memórias. A personagem protagonista
reflete sobre sua condição espelhada em uma história coletiva, histórica. Como trata-se de escritas
de si, faz-se uma breve reflexão sobre o conceito de autoficção, pensando no perfil do romance
brasileiro contemporâneo, sobretudo no perfil do narrador.