Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
“Então ela está estudando para ser feiticeira, para atrapalhar a nossa vida”: o lugar da mulher negra na construção e consolidação das relações afetivas em Diario de Bitita, de Carolina Maria de Jesus
JANAINA TOMAZ CAPISTRANO (IFRN)
Considerando fundamental a leitura de obras que se localizam na contramão da hegemonia branca, masculina e eurocentrada, sobretudo no âmbito educacional, trazemos para o centro das investigações do projeto de pesquisa “Vozes da periferia: Carolina e outras pretas descolonizando o patriarcado” a obra Diário de Bitita (1986), relato autobiográfico escrito por Carolina Maria de Jesus. Este trabalho se constitui como desdobramento dos estudos desenvolvidos nesse projeto de pesquisa, implementado no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), Campus São Gonçalo do Amarante. O objetivo deste estudo é reconhecer na e pela linguagem o lugar da mulher negra na construção e consolidação de relações afetivas, as quais são relatadas na obra Diário de Bitita. Para tanto, focalizamos a escrita de uma mulher pertencente a um grupo ainda mais subalternizado, em que o corpo social é desacreditado de suas potencialidades apenas por ser mulher, negra e pobre, mas que usa a leitura e a escrita como armas para enfrentar a ordem patriarcal branca. Buscamos fundamentar o estudo na teoria bakhtiniana da linguagem, recorrendo aos conceitos de vozes sociais e relações dialógicas; bem como na teoria feminista decolonial, pensada, dentre outras, por Lélia Gonzalez (2020), Sueli Carneiro (2011), bell hooks (2019), Audre Lorde (2019), Patrícia Coollins (2019) e Grada Kilomba (2019), cujo conceito de interseccionalidade vem sendo bastante salutar para a compreensão de como várias estruturas de opressão se cruzam silenciando e marginalizando corpos sociais afetados por elas, inclusive em suas relações afetivas. Assim, a partir de um olhar afrocentrado, este trabalho segue na esteira de estudos que buscam produzir fissuras no campo simbólico da literatura, desconstruindo estereótipos que subalternizaram a escrita potente e urgente de mulheres negras, as quais vêm se reafirmando mulheres sujeitos de suas histórias e dos saberes que delas decorrem.
Palavras-chave: Linguagem; Interseccionalidade; Relações afetivas; Corpo Social.
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