Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Gênero como performance em Boquitas pintadas de Manuel Puig e La Virgen Cabeza de Gabriela Cabezón Cámara
DIANA CASALI NAVARRO (UFRJ)
Quarenta anos se passaram entre a publicação de Boquitas pintadas (1969) e La Virgen Cabeza (2009) dos escritores argentinos LGBTQIAP+ Manuel Puig e Gabriela Cabezón Cámara, respectivamente. Embora o mundo do século XXI seja outro (outra pobreza, outras doenças, outras neuroses), continua vigente o problema da voz dos personagens femininos considerados subalternos (donas de casa, faxineiras, prostitutas, lésbicas, mulheres trans, travestis....), personagens sem lugar de fala cujas vidas são narradas por outros; porque “se no contexto da produção colonial, o sujeito subalterno não tem história e não pode falar, o sujeito subalterno feminino está ainda mais profundamente na obscuridade.” (SPIVAK, 2010. p.28) Partindo do conceito de “gênero performativo”, criado nos anos 90 pela filosofa feminista pós-estruturalista Judith Butler (2013), tentaremos analisar, neste trabalho, a questão de gênero como performance nos romances de referência, questão essencial para compreendê-los em toda sua potência disruptiva. No romance de Puig encontramos um binarismo exacerbado que não deixa espaço à ambiguidade. As vozes que Puig traz na narrativa, para esconder a sua, são, ante todo, performativas: elas determinam o gênero dos personagens e revelam o artifício dessa construção socialmente aprendida a base de repetição constante. As modificações desses esquemas binários em La Virgen Cabeza são evidentes. No romance de Cabezón Cámara, o fato das personagens principais serem uma lésbica e uma travesti deixa ao descoberto o artificio das classificações heteronormativas. Cleo e Qüity já não são duas mulheres no termo “sexual”, mas sim no termo “genérico”. O encontro entre elas é homogêneo porque o travesti é uma mulher, e heterogêneo porque o travesti é também a transformação do homem. Nosso objetivo, portanto, será avaliar comparativamente, entre esses dois romances, a voz da subalternidade em torno dos gêneros, a partir das performances que os constroem, evidenciado a importância da visibilidade de autores cujas obras dialoguem com outras subjetividades.
Palavras-chave: gênero como performance; subalternidade; literatura LGBTQIAP+
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