Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Figurações do escritor como trabalhador em "Descobri que estava morto" de João Paulo Cuenca
Lais Luciene da Silva Carvalho (Universidad de Buenos Aires (UBA))
O trabalho é uma categoria central para refletir sobre a contemporaneidade e o atual momento de expansão de políticas neoliberais que disseminam a precariedade em suas mais diversas manifestações. Nesse contexto, esta comunicação pretende analisar a figuração do escritor como trabalhador no romance Descobri que estava morto (2016), de João Paulo Cuenca. Nessa narrativa ficcional a escrita aparece como um trabalho em que o escritor e narrador-personagem emprega suas capacidades, tempo, dedicação e esforços. Então, se indagará como o escritor figura como trabalhador e que reflexões faz sobre suas práticas relacionadas à escrita de tipo ficcional, considerando a relação que se estabelece entre literatura e mercado. Isso porque, em um mundo laboral em constante transformação, no romance de Cuenca aparece uma figuração do escritor como um trabalhador que dispõe de suas experiências pessoais, seu corpo e afetos como materiais que podem ser aproveitados para sua escrita e, portanto, capitalizados para o trabalho. Por outro lado, o escritor também adota estratégias de legitimação e produção de valor no contexto do já mencionado neoliberalismo que, além de destruir mecanismos de solidariedade e proteção social, conforma novas subjetividades e relações sociais. Nesse cenário que promove a competição entre indivíduos, aparece como demandada aos sujeitos a capacidade de autopromover-se, sendo mesmo possível a figura do escritor-trabalhador como “empresário de si mesmo”. Considerando que se trata de uma temática pouco e recentemente abordada pela produção crítica latino-americana, a análise da obra de Cuenca ilumina novas zonas das literaturas contemporâneas da América Latina ao considerar que o trabalho e o trabalho do escritor especificamente configuram diferentes modos de narrar que cruzam dimensões documentais, com, por exemplo, a incorporação de expedientes policiais referentes à morte do autor, e ficcionais.
Palavras-chave: Escrita; Trabalho; Escritor; Mercado; Neoliberalismo
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