Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Figuração da colonialidade do poder: identidades rizomáticas em António Lobo Antunes
Raquel Trentin Oliveira (Universidade Federal de Santa Maria)
A ficção contemporânea de língua portuguesa, de modo geral, tem contribuído para romper com um dos mais poderosos mitos do século XX, o mito de um mundo pós-colonial, de que a eliminação das administrações coloniais conduziria à descolonização do mundo. Nesta comunicação, pretendo analisar personagens-narradoras-focalizadoras de romances de António Lobo Antunes, especificamente de Comissão das lágrimas (2011) e Até que as pedras se tornem mais leves que a água (2017), enquanto corpos-políticos marcados por múltiplas e heterogêneas hierarquias, formas de dominação e exploração sexual, política, econômica, espiritual, racial. Muitos dos romances do autor, ao figurarem personagens complexas, híbridas, diaspóricas – identidades rizomáticas no sentido de Éduard Glissant (1990/2021) – funcionam como uma forma potente de enfrentar e rasurar hierarquias de inferioridade e superioridade cultural à medida que levam à falência a imagem de um “super-homem” heterossexual/branco/patriarcal/cristão/militar/capitalista/ europeu. Desse modo, como formas de manifestação dialética de uma realidade histórica complexa, contribuem para uma reflexão sobre identidades que devieram – e outras, diferentes, que podem devir – das relações entre as comunidades de Língua Portuguesa. Optando por estabelecer conexões, não consagrar a exclusão e a dicotomia, pretendo ler a ficção de António Lobo Antunes em diálogo com certas noções das teorias pós-colonial e decolonial, assim como traduzidas por importantes nomes do pensamento contemporâneo, como Boaventura de Sousa Santos, Édouard Glissant, Stuart Hall, Walter Mignolo, Aníbal Quijano, Ramón Grosfoguel.
Palavras-chave: António Lobo Antunes; figuração da personagem; identidades rizomáticas; pós-colonialismo.
VOLTAR