Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Escrevivência em autoras negras: Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus e Lívia Natália
Magno Francisco Sátiro Catão (Universidade Federal de Pernambuco)
A Escrevivência, termo cunhado por Conceição Evaristo, denota as particularidades de uma escrita atravessada pela vivência das mulheres negras. Nesse processo, em que pese a subjetividade do texto estar imersa numa experiência individual, essa última alarga-se e atinge uma espécie de memória coletiva direcionada a toda autoria negra feminina. Segundo Fonseca (2020, p. 65), a escrita nesse contexto ultrapassa uma performance meramente contemplativa e adota uma perspectiva política, sendo “uma potência sígnica capaz de balançar os alicerces de uma ordem literária instituída”. Ainda, para essa autora, esse termo “passa a significar a expressão de uma subjetividade negra feminina que tanto pode valer-se de estratégias discursivas próprias à revelação de um eu negro, quanto anunciar uma voz coletiva que assume as experiências femininas negras” (FONSECA, 2020, p. 65). De acordo com a própria Conceição Evaristo, a escrevivência “extrapola os campos de uma escrita que gira em torno de um sujeito individualizado”; ela surge enquanto “uma prática literária cuja autoria é negra, feminina e pobre” (EVARISTO, 2020, p. 38). Para ilustrar essa ideia, a escritora remete-se a Oxum e a Iemanjá: assim, no abebé (leque em forma circular com espelho no centro) de Oxum, seria recuperado um rosto, uma individualidade mutilada pela colonização e demais opressões; quando a individualidade é finalmente reconquistada, surge o abebé de Iemanjá, em que outros rostos e individualidades são percebidos e é revelada “a nossa potência coletiva, nos conscientiza que somos capazes de escrever a nossa história de muitas vozes. E que a nossa imagem, o nosso corpo, é potência para o acolhimento de nossos outros corpos”.(EVARISTO, 2020, p. 39). Assim, a partir da noção de escrevivência, veremos como esse conceito dialoga com a obra da própria Conceição Evaristo, da escritora Carolina Maria de Jesus e da poeta Lívia Natália.
Palavras-chave: Escrevivência. Memória coletiva. Autoria negra.
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