Este trabalho traz algumas reflexões sobre as possibilidades de releituras das obras literárias a partir da implantação e divulgação da Lei 11.340/06, a Lei Maria da Penha, que cria mecanismos de coibição da violência doméstica e familiar contra a mulher. Essa lei prima pelo respeito aos direitos humanos e pode ser usada como suporte crítico para o ensino de literatura, pois traz uma proposta de revisão das diferentes formas de “assédio moral” e “violência simbólica” contra a mulher que fazem parte da história da literatura brasileira. Vista como um novo parâmetro interpretativo, a concepção ideológica dessa Lei coloca na berlinda o ponto de vista de narradores como Bentinho (Dom Casmurro), de Machado de Assis, e de Carlinhos, (Menino de engenho), de José Lins do Rego. Esses narradores descrevem cenas de opressão e silenciamento feminino como parte do sistema patriarcal opressor sem questionar as diferentes formas de opressão e de desrespeito aos direitos da mulher. Levando em conta os avanços desses diretos e a nova legislação vigente, apresentamos uma proposta de “leitura interdisciplinar”, que valoriza as questões ideológicas de gênero por trás das representações da violência contra a mulher na literatura brasileira. Metodologicamente, parte-se dos conceitos de “comunidade interpretativa”, de Stuart Hall, de “hibridismo”, de Homi Bhabha, de “intertextualidade”, de Linda Hutcheon, de “interdisciplinaridade”, de Reinaldo Marques, e das categorias de “corpo feminino”, de Elódia Xavier, para se explorar a legislação sobre os direitos da mulher como um intertexto cultural indispensável para a renovação das estratégias de recepção e ensino da literatura.