Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Ensaiando cosmopoéticas para o Antropoceno
Maria Petrucci Sperb (UFRGS)
O atual contexto de agravamento da crise climática e sócio-política forçam a comunidade acadêmica a confrontar-se com uma nova época na história do pensamento, a qual representa, também, uma nova época geológica: o Antropoceno. O conceito enfim escapou às bordas da Geologia e adentrou as Ciências Humanas, sendo adotado por pensadores como Dipesh Chakrabarty (2013), Bruno Latour (2016) e Timothy Morton (2013) enquanto um paradoxo teorético que sintetiza a perturbação das noções-chave da Modernidade, isto é, as de Humano e Natureza. A questão que interessa em específico a esta comunicação é, justamente, a dimensão estética e política do Antropoceno, ou o Antropoceno enquanto regime estético e, consequentemente, político (RANCIÈRE, 2015). Como fazer literatura, ciência e filosofia sem Humano e sem Natureza? Na medida em que o discurso estético pressupõe e concede um juízo de valor às coisas, e este se organiza em torno de uma ideia de humanidade, pode-se admitir que o Antropoceno requer a revisão desses parâmetros e, possivelmente, o aparecimento de novos. Se concedermos que cada configuração estética indica pistas a seguir (MACÉ, 2011), práticas e valores que (des)continuam nosso processo de individuação, então experimentar brevemente o estilo de ser de outras criaturas — um pássaro, um rio, uma ilha de lixo — nos desloca de nós mesmos, encaminhando-nos à despossessão e nos (re)inserindo em um "pluriverso ondulante" (TOUAM BONA, 2020, p. 12-13). A cosmopoética, se pensada como um modo perspectivista, e não-antropocêntrico, de conjurar as relações com o mundo sensível revela-se uma prática filosófica e criativa urgente no Antropoceno. Pensar os desdobramentos políticos deste novo "comum" é imperativo para que se divise mais maneiras de se conectar com os entes da terra, para que se produzam, inclusive, "pensamentos da terra", cosmopolíticas (STENGERS, 2018) que construam e sustentem a pluralidade de mundos, ao invés de seus desaparecimentos.
Palavras-chave: Antropoceno; estética; teoria da literatura; cosmopolítica
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