Este trabalho coloca em foco o romance de António Lobo Antunes “Conhecimento do Inferno” para apresentar a temática da loucura a partir do narrador-personagem do livro. Um psiquiatra que, alistado no exército português como médico, experienciou a guerra da independência colonial angolana e, ao retornar para Lisboa dois anos depois, não consegue mais reconhecer-se no que era sua vida antes da partida. Em outras palavras, esse sujeito que retorna encontra-se perpassado pelos discursos da psiquiatria, mas desacredita-se como médico e não consegue mais distinguir o que é loucura ou razão. Essa obra de Lobo Antunes é uma viagem do presente ao inferno de um passado sombrio, mas também a todos os infernos que se consolidaram através de guerras ou de loucuras cotidianas, resultando em sujeitos inacabados e incapazes de apostar em um futuro esperançoso. A loucura, questionada principalmente quando esse narrador-personagem coloca em xeque o discurso de psiquiatra, remete ao caos em que se encontram atualmente todas as certezas do ser humano que, por isso, busca problematizar a autoridade máxima criada por si, ou seja, a ciência, que sempre classificou o que é são ou doente, porém não consegue achar a cura para as mazelas da alma do ser humano, criador de grandes obras que vão desde as antigas esfinges até os monstruosos arranha-céus a lhe sufocarem na contemporaneidade. A ciência versus a experiência desse sujeito fragmentado desestabilizam os conceitos máximos de “verdade” que podem definir se alguém é digno de ser considerado “são” ou não. Veremos esses caminhos através de algumas terapias e de alguns pacientes encontrados nesse romance, para apontar que talvez seja mais difícil do que parece encontrar as respostas certas para coisas tão incertas como o é o ser humano.