FLAVIA RANGEL PIMENTA CASTELIONE (Universidade Federal do Espírito Santo)
As ditaduras latino-americanas muito têm em comum em sua gênese e em seu desenvolvimento. Tendo em vista esse pressuposto, esta pesquisa tem por objetivo aproximar mazelas vividas nos Anos de Chumbo em diferentes lugares da América Latina e busca compreender, por meio da literatura, algumas das potenciais ligações entre contextos ditatoriais latino-americanos. Partindo do poema Tecendo o canto, de Pedro Tierra (1979), que conclama os torturados das ditaduras a compor “o vasto coro dos oprimidos”, propomos um breve passeio por textos literários que conectam de forma dialógica e polifônica as manifestações de opressão vivenciadas por presos políticos. Nesse sentido, também visamos a uma compreensão de possíveis razões pelas quais, de acordo com Kehl (2010), o Brasil tenha sido a única nação que anistiou os responsáveis pelo golpe sem ao menos uma cobrança formal de retratação pública pela barbárie empunhada – prisões arbitrárias, torturas, mortes, “desaparecimentos” -, o que perpetua a carência de elaboração da ferida exposta que é a ditadura militar no país, haja vista o contexto atual de atos golpistas em favor de um regime de exceção. Esse contexto hodierno brasileiro (e também o latino-americano, de forma mais abrangente) escancara, mais do que nunca, a importância do estatuto da memória.
Palavras-chave: Literatura; Ditadura; América Latina