Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
TRANSFORMANDO A POÉTICA DO AMBIENTE: O LIVRO DAS TRANSFORMAÇÕES CONTADAS PELOS YANOMAMI DO GRUPO PARAHITERI
Pedro Mandagará (UnB)
Neste trabalho, tentarei uma primeira leitura do conjunto de quatro livros narrados por pajés yanomami do grupo Parahiteri, editados por Anne Ballester Soares para a editora Hedra em 2016. Os quatro volumes são: Os comedores de terra (Pitawarewë), O surgimento dos pássaros (Naroriwë), O surgimento da noite (Ruwëri) e A árvore dos cantos (Amoa hi ã he rë haanowehei). Juntos, eles formam o “livro das transformações contadas pelos yanomami do grupo Parahiteri”. Parte da Coleção Mundo Indígena, que inclui ainda três volumes com narrativas de outras etnias, os livros editados por Ballester Soares têm algumas peculiaridades frente a outras edições de textos orais indígenas. O caráter oral das narrativas míticas parece ser mantido nas traduções para o português, com diversos dos recursos próprios da oralidade (descritos por autores como Walter Ong) comparecendo no texto. É o caso de repetições, de perguntas retóricas, de idas e vindas temporais. Mais ainda, os livros são bilíngues: após cada versão em português, a transcrição em língua indígena (xamatari ocidental) também é impressa. Para a política da memória dos povos e línguas yanomami a importância da publicação é inegável. Nesta primeira aproximação a estes textos tão complexos, uma aproximação cuidadosa dado o desconhecimento da língua xamatari por parte deste pesquisador, pretendo investigar como os textos míticos dos yanomami do grupo Parahiteri constroem uma ambiência textual própria. Da teoria de Timothy Morton, em Ecology without Nature e outros textos, sabemos que há uma retórica própria para a construção de uma ambiência (ambience) textual, que não só tematiza mas evoca a Natureza. Morton trata da tradição literária ocidental, em especial de língua inglesa, a partir do Romantismo. Os diversos traços do conceito de ambience por ele descritos carregam o peso desta tradição. Uma primeira pergunta deste trabalho, portanto, seria: há uma forma específica de ambiência nos textos de base oral? Como estes textos constroem seu ambiente, evocam uma cadeia de sensações relacionadas a um lugar ou território específico? E como se pode sentir esta ambiência, se tão poucos dos leitores já puderam visitar a Amazônia (ou a Terra Indígena Ianomâmi)?Palavras-chave: Ianomâmi; Literatura indígena; Poética do Ambiente.
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