NELISE PEREIRA DA SILVA (Universidade de Brasília)
Este artigo propõe uma análise da interação entre literatura e fotografia por meio da análise do tema da cidade morta. Com base no pensamento de Roland Barthes (2018), que afirma que a fotografia está relacionada ao signo da morte e da vida que mostra-se como uma condição, investigamos como a fotografia e os aspectos estéticos da escrita, apesar de empregarem linguagens distintas podem estabelecer pontos de confluência. Primeiramente, será apresentado o poema “Pelo Outono de Bruges” (1914) de Agenor Barbosa, o qual o poeta mineiro evoca a cidade de Bruges atribuindo uma atmosfera de mistério em um cenário cinza, sombrio e dormente comum a uma cidade morta. Os elementos imagéticos descritos no poema são tomados como símbolo e estabelecem uma aproximação com a imagem fotográfica. No segundo momento, será apresentado o romance Bruges-la-Morte (1892) de Georges Rodenbach, em que a cidade morta também é evocada e reflete o âmago do personagem. As fotografias publicadas no romance de Georges Rodenbach contribuem para ampliar a interpretação, bem como a relação de sentido tanto na obra como no poema de Agenor Barbosa. Desta forma, o diálogo entre literatura e fotografia permite evidenciar um jogo de espelhamento, em que a percepção da cidade reflete o estado de alma. No poema de Agenor Barbosa a imagem literária nos remete ao estado de alma de Rodenbach. Já no romance a imagem literária, bem como a imagem fotográfica expõe o estado de alma do personagem Hugues Viane.
Palavras-chave: Interartes; Literatura; Fotografia; Agenor Barbosa; Georges Rodenbach.