Calcado nos estudos científicos, estéticos e sanitários o Rio de Janeiro apagou de sua memória aquilo que tornara seu centro, símbolo das transformações urbana e cultural, em um espaço fétido, bafiento e retrógrado: o Morro do Castelo. Na série de textos escritos em 1905 para O Correio da Manhã, hoje publicada em livro, O subterrâneo do Morro do Castelo, Lima Barreto nos oferece uma narrativa que quase beira o cômico, homens sedentos por encontrar tesouros escondidos sob a massa geológica da urbe desenterram um passado de fantasia sob as vestes contemporâneas da estética urbana. A destruição do morro é a síntese de um dado: no afã de transformações, a civilização é mais patológica que a selvageria. O Morro do Castelo (ou sua ausência) converteu-se num símbolo sisífico que se renova a cada transformação urbana; apagase o passado, remodela-se o futuro.
Palavras-chave: Belle Époque. Literatura. Lima Barreto. Morro do Castelo