Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Deslocamentos de um contraolhar: o caminhar de Graciela Guarani com as imagens
Olívia Érika Alves Resende (UFRJ)
Este trabalho lança um olhar sobre as vídeo-cartas produzidas por Graciela Guarani para o projeto 'Nhemongueta Kunhã Mbaraete' (realizado em 2020, em parceria com Michele Kaiowá, Patrícia Ferreira Pará Yxapy e Sophia Pinheiro). Busco refletir sobre modos de (se) ver e de (se) mostrar encontrados em imagens da cineasta. Ao se opor a um regime de representação hegemônico, centralizado na semelhança e na identidade, Graciela experimenta um gesto fílmico de reinvenção subjetiva em imagens, operação esta que complexifica as formas de enquadrar um corpo-fêmeo-indígena. Em diálogo com uma concepção expandida de corpo-caminhada, amparada no perspectivismo ameríndio – tal como este é desenvolvido pela antropóloga indígena Sandra Benites em 'Viver na língua guarani Nhandewa (mulher falando)' –, entendo corpo como uma dinâmica relacional, um modo de conhecer que está em permanente construção e que se realiza a partir de um “viver na língua”. Defendo que Graciela empreende uma caminhada com as imagens e constrói uma estética de deslocamentos do olhar, ampliando territórios e transformando formas de ser com a câmera irredutíveis a determinações. Tal dinâmica de reelaboração subjetiva é expressa no manejo semiótico e sensorial das imagens-palavras ao longo das vídeo-cartas. Ao criar modos provisórios de colocar o corpo em cena, a cineasta ativa jogos de espelhos que convidam espectadoras(es) a rever as imagens e a questionar quem nestas encontra-se vendo ou sendo vista(o). Essa espécie de contraolhar desenvolvida por Graciela executa uma potência desestabilizadora que, como explica bell hooks em 'Ensinando a transgredir', é capaz de transformar o mundo das imagens, liberando-as de simplificações. O caminhar com as imagens em 'Nhemongueta Kunhã Mbaraete' ativa um processo de cura para corpos constantemente estigmatizados, processo que Graciela descreve como “caminho luminoso”, fazendo do cinema um espaço-tempo de abertura para produção da diferença.
Palavras-chave: Cinema indígena; Caminhada; Corpo; Nhemongueta.
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