Não se sabe ao certo desde quando se manifestaram no Brasil tradições religiosas que cultuam deuses trazidos por africanos escravos ou libertos. Do mesmo modo, também não se sabe ao certo desde quando estes deuses passaram a ser cultuados em espaços sagrados que exigiram a presença de um líder espiritual, sacerdote ou sacerdotisa, e de um grupo de fiéis orientados espiritualmente por este líder. Desta forma, o sacerdote ou sacerdotisa e seus fiéis foram incumbidos de zelar pela preservação material de um espaço sagrado, que passou a ser conhecido como roça ou terreiro, e pela manutenção de rituais, transmissão de mitos de origens, valores e práticas que apontam para uma concepção do que seja o sagrado, do que sejam deuses cultuados e mesmo do que seja o humano que se relaciona e evoca o divino africano ou afro-brasileiro através de ritmos e canções sagradas, orações, comidas, objetos e práticas mágicas. Esta comunicação, por um lado, se faz no sentido de ampliar a compreensão sobre a tradição do candomblé Angola na Bahia tomando como ponto de partida a memória oral e dados históricos sobre fundadores e continuadores da tradição religiosa Angolão Paquetan. Por outro lado, ao destacar especificidades do modo de narrar dos praticantes desta tradição citada, pretende uma reflexão sobre a noção de tempo e sobre o imbricamento entre saber histórico e tradicional. Fruto de uma pesquisa inconclusa, a coleta de dados se dá através da consulta a fontes históricas documentais, mas também à memória oral de agentes vivos da tradição Angolão Paquetan. Embora inconclusa, esta pesquisa aponta para a necessidade de se desdobrar a reincidência de estudos sobre a tradição religiosa Ketu, corrigir erros de interpretação e preconceitos contra os angola presentes n senso comum e em clássicos estudos sobre religião afro-brasileira ao mesmo tempo em que aponta para outra perspectiva de identidade religiosa afro-diaspórica.