O trabalho “Arte urbana contemporânea: o impacto da palavra em intervenções no Rio de Janeiro” tem o intuito de investigar a potência das intervenções feitas por quem habita a cidade. O foco principal é o impacto da criação dessas intervenções com palavras, que deixam de ser apenas letras em um contexto literário e passam a cumprir o papel de imagem – ponto forte da luta dos poetas concretistas no século XX, que redobra a intenção política. O trajeto que possibilita se deparar com os escritos em muros e ruas da cidade também desemboca em uma multiplicação de sentidos provocados por esses encontros. O estudo busca conjugar as discussões recentes sobre arte – onde se destacam sua inespecificidade, sua perda de autonomia e a expansão de seu campo – com a importância que ganham as atividades políticas desenvolvidas através de performances, instalações ou inscrições de marcas significativas em espaços públicos. Assim, refere-se à dimensão estética que contamina às iniciativas políticas não violentas com grande frequência, a forma de inscrições plasticamente atraentes feitas em espaços públicos, instigando a tomada de consciência crítica de direitos de cidadania e indicando novos possíveis aproveitamentos de lugares, edificações, veículos e espaços para o prazer e ampliação do conhecimento de quem vive/passa por esses centros urbanos. Em uma cidade que pode ser considerada um poema - mas não um poema clássico -, com suas múltiplas leituras, em que é possível se inscrever, ocupar espaços e trocar experiências (BARTHES, 1971), o estudo é feito com base no método cartográfico, proposto por Deleuze e Guattari (1995). O desejo é encontrar nas ruas intervenções artísticas que deslocam o olhar, não só no sentido físico e decorativo, mas também como possibilidade de sensibilizar, quebrar a rotina dos espectadores, podendo transportá-los a outros papeis ficcionais (RANCIÈRE, 2009). “Fazer mudar de lugar”, “tirar do lugar competente”, “desviar” são ações importantes dos escritos que serão escolhidos para guiar o trabalho. Entre as intervenções-inspirações, estão: as pichações “SMH” (Secretaria Municipal de Habitação) em prédios e casas da Zona Sul deslocando o símbolo criado pela prefeitura escrito em casas populares prestes a serem demolidas; “3,80 é open bar” marcado em bancas de jornal do Centro para pontuar o aumento das tarifas de ônibus na cidade; as pichações “33 contra todas” e “A culpa não é da vítima” após vir à tona a noticia do estupro coletivo no Rio de Janeiro; e a composição de Augusto de Campos, “Viva a vaia”, produzida na década de 70 e grafitada hoje nos muros de alguns bairros da Zona Sul.
Palavras-chave: ARTE URBANA, POESIA VISUAL, CIDADE, INTERVENÇÃO