Tomando como ponto de partida o conceito de transcriação, elaborado por Haroldo de Campos em 1963, este trabalho foi motivado pela vontade de desenvolver um estudo interdisciplinar das relações entre literatura e artes visuais no contexto do Brasil contemporâneo. Com isto em mente, o conceito de transcriação – aqui entendido como uma tradução criativa – foi expandido e aplicado em um exercício de reimaginação do romance inglês “Emma”, escrito e publicado por Jane Austen em 1815. Na tentativa de aproximar duas culturas e duas épocas tão distintas, esta pesquisa propôs, assim, a elaboração de um projeto experimental em língua portuguesa que levasse em consideração características da cultura, do imaginário brasileiro e da época atual, no desenvolvimento de uma narrativa com imagens. Dessa forma, pode-se dizer que o principal objetivo deste trabalho estava justamente em estudar o transporte de um texto para outro contexto e explorar como a relação entre texto e imagem se modifica no processo. No entanto, apesar de envolver diversos tipos de tradução, como a interlingual, a intralingual e a intersemiótica, como foram entendidas por Júlio Plaza em sua tese de 1987, o foco desta pesquisa não não esteve somente em estudar questões de/para linguagem, mas também em refletir acerca da melhor forma de se traduzir visualmente um conteúdo verbal. Para isso, foi feito um estudo da dinâmica dos personagens e do fluxo narrativo, que facilitaram a interpretação do texto original e deram origem a uma etapa muito significativa para o projeto: a tradução das paletas de cor, das estruturas formais e dos ritmos e compassos entre som e imagem, cores e formas. A pesquisa se caracterizou tanto pela sobreposição do paradigma ao sintagma, como pela busca de uma organicidade composicional, com o objetivo de criar laços entre unidades significantes do texto e das imagens. E, para que o projeto se tornasse realidade, além de explorar as possibilidades criativas na elaboração de imagens que pudessem se relacionar a um determinado texto e ao imaginário nele retratado, foi imprescindível desenvolver um estudo sobre a autora em si, o contexto em que se deu a criação da obra e a sua repercussão até os dias de hoje, de forma a melhor compreender o texto original. Durante todo o processo, foram consideradas características da cultura, do imaginário brasileiro e da época atual no desenvolvimento da narrativa com imagens, de forma a garantir que os resultados retratassem a cultura brasileira, ao mesmo tempo em que mantivessem traços fundamentais do original. A intenção era criar imagens que remetessem ao conteúdo original, mas que ao mesmo tempo tivessem um apelo emocional que despertasse as memórias do leitor e que permitissem uma maior identificação por estarem atreladas ao cotidiano do brasileiro. O resultado final foi um “livro ilustrado” baseado em uma obra tradicional da literatura inglesa, mas que ao mesmo tempo reflete, em parte, a cultura brasileira.