Há um ler, contando. Um contar, lendo. Há um contar, encenando. Em todos esses casos, não podemos desconsiderar os efeitos da prosódia. Tal como Haroldo Campos, não desconsideramos a “suavidade prosódica, como vogais descansadas e lentas, alheias aos empurrões das consoantes” (CAMPOS, 1990, p. 50). A ênfase em alguns trechos da narrativa dar-se-á em função de dois aspectos: as emoções de quem conta– partes decisivas do enredo, como início, clímax e desfecho e os aspectos performáticos que envolvem toda a teatralização da narrativa. Referenciado nesse contexto, este trabalho tem como objetivo discutir a contação de histórias e o processo de teatralização das narrativas nos primeiros anos do ensino fundamental. A pesquisa adotou como aporte teórico a perspectiva histórico-cultural de Vygotsky (2006), além de estudos sobre as narrativas Eco (1983) e sobre a performance Gumbrecht (1998). Optamos pela Epistemologia Qualitativa de Gonzalez Rey (1999) por possibilitar ao pesquisador uma participação construtiva e interpretativa nos vários momentos da investigação. A pesquisa tratou-se de um estudo de caso, desenvolvido em uma escola pública de 1º ao 5º ano do Distrito Federal, situada a 30 Km de Brasília, que atende a uma população, em sua maioria, de baixo nível sócio-econômico e com pouco acesso a bens culturais. A escola desenvolve um projeto de contação e teatralização de narrativas há 12 anos, reconhecido pela comunidade escolar como de qualidade e que funciona como um elemento mobilizador e agregador de importantes atividades pedagógicas que ocorrem na escola. O projeto é marcado pela presença de professoras que assumem o papel de personagens (Racumin, Racutia e Bruxa Keka) na condução dos projetos de literatura infantil, teatralização das narrativas, formação do leitor e a formação de plateia. Ao longo da pesquisa, depreendemos que o trabalho de contação de histórias e a teatralização dos enredos é marcado por uma interferência das professoras que impõem um ritmo novo à prosódia e ao corpo. As crianças tornando-se ouvintes e partícipes da história parecem transformar-se em ouvintes de sua própria voz, ouvintes de si mesmas na proporção da força do impacto com as imagens ouvidas e ressignificadas. Portanto, na escola, as versões e sub(versões) das narrativas ocorrem também acompanhadas pela voz, pelo corpo na expressão de sua teatralidade e congregam as crianças e professores em direção a modos de pensar, agir, imaginar e, principalmente, criar. Palavras-chave: Literatura infantil, Teatro, Contação de histórias. Referências ECO, Umberto. Leitura do Texto Literário - Lector in Fabula: A Cooperação Interpretativa nos Textos Literários. Lisboa, 1983. GONZÁLEZ REY, Fernando Luis. Epistemologia cualitativa y subjetividad. São Paulo: EDUC, 1999. GUMBRECHT, Hans Ulrich. Corpo e forma: ensaios para uma crítica não-hermenêutica. Tradução de Heloisa Toller Gomes, João Cesar de Castro Rocha e Johannes Kreschmer. Rio de Janeiro: UERJ, 1998. VIGOTSKI, Lev Semenovich .Imaginação e criação na infância. São Paulo: Ática, 2006.
Palavras-chave: LITERATURA INFANTIL, CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS, TEATRO