Sob um perspectiva comparatista, este trabalho procura analisar as negociações indenitárias que ocorrem nos romances “Esse Cabelo: A tragicomédia de um cabelo crespo que cruza a história de Portugal e Angola” (2015), de Djamilia Pereira de Almeida e “Americanah” (2013), de Chimamanda Ngozi Adichie. Os dois romances são narrativas migrantes, em que as personagens se veem entre dois mundos, entre duas culturas diferentes, o que as leva a experenciar os conflitos do entre-lugar (Bhabha, 1998), suas tensões e suas ambiguidades. Além disso, as próprias autoras das obras provém de contextos semelhantes. Djamilia nasceu em Luanda, Angola, mas foi criada em Portugal, enquanto que Chimamanda é nigeriana, mas sua trajetória como escritora teve início já nos Estados Unidos. Em “Esse Cabelo”, a protagonista do livro passa a vida inteira negociando sua identidade por meio do seu cabelo. Ela quer se identificar com o avô branco. Para isso, tenta ter um cabelo minimamente liso e domado. Outras pessoas ao redor dela incentivam essa atitude, indicando novos produtos e cabeleireiros. O resultado é sempre desastroso. Situações semelhantes acontecem em Americanah, por diversas vezes o cabelo de Ifemelu se mostra como um problema. Por exemplo, ela resolve alisá-lo para uma entrevista de emprego e poucos dias depois ela precisa raspar o cabelo, pois o produto havia causado uma reação grave na pele de seu couro cabeludo. Apenas quando as duas personagens negociam suas identidades, se assumindo como diferentes em seu meio é que elas finalmente conseguem entrar em paz com seus cabelos e com elas mesmas. Assim sendo, o propósito desse trabalho identificar como as personagens de diferentes contextos de migração buscam negociar a sua identidade para conseguirem lidar com essa zona tensa e marginal que é o entre-lugar. Além disso, a ideia é trazer noções e conceitos de diferentes teóricos para analisar essas negociações e compará-las, problematizando assim esse processo cada vez mais intenso em um mundo globalizado, a migração. Entre as várias abordagens possíveis, optei pela noção de “estrangeiro” proveniente da obra Estrangeiros para nós mesmos (1994), de Julia Kristeva. Em um mundo globalizado, de constantes migrações, as pessoas trocam de país por diferentes motivos: porque buscam uma melhor qualidade de vida, por motivos econômicos, ou, nos piores casos, migram fugindo de guerras. Quase sem exceção, movimentos migratórios intensos acabam muitas vezes por gerar problemas políticos e sociais, como a xenofobia. Esse seria o conceito mais frequente de estrangeiro, que Kristeva certamente amplia, pensando a alteridade e a psicanálise na figura do estrangeiro (que não precisa ser necessariamente uma pessoa de outra nacionalidade). Por fim, não poderia deixar de fora o conceito de desterritorialização de Deleuze e Guattari (1972), pois quando as personagens estão deslocadas de sua terra, elas são o outro. Mesmo que retornem para sua terra natal, elas ainda assim serão vistas como “estrangeiras”. Em síntese, esse trabalho tem como objetivo identificar e problematizar os processos identitários das obras do em questão e analisá-los à luz de alguns conceitos dos Estudos Culturais e da Literatura Comparada.
Palavras-chave: MIGRAÇÃO, LITERATURA COMPARADA, DJAMILIA PEREIRA DE ALMEIDA, CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE