Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
FERRÉZ, ALLAN ROSAS E LUIZ RUFFATO – LITERATURA PERIFÉRICA; DE OBJETO PARA SUJEITO DISCURSIVO
MARIA CRISTINA AMORIM PARGA MARTINS, FREDERICO COELHO, ENEIDA LEAL CUNHA
No Brasil, uma geração antes à margem tem forçado fissuras rompendo as barreiras rígidas do espaço literário nacional, surgindo na literatura não mais como objeto – mas como sujeito discursivo. Como afirma Paulo Tonani Patrocínio, desde meados da década de 1990, muitos autores marginalizados têm “selado a brancura das páginas com caracteres negros”. O marco inaugural deste movimento foi a publicação de “Cidade de Deus”, de Paulo Lins – no qual um autor utiliza a própria vivência à margem como ex-residente da favela num discurso que une testemunho e ficção. A trilha inaugurada por Lins vem sendo percorrida por outros autores de periferia, como Ferréz e Allan Rosas. Luiz Ruffato, por sua vez, é oriundo de uma cidade do interior de Minas, filho de um pipoqueiro, e, contrariando o script que o faria buscar um ofício mais comum na região, se torna escritor. Em “Estive em Lisboa e lembrei de você”, narra a trajetória de imigração de Serginho, que sai da pequena Cataguazes e aterrissa numa Lisboa muito diferente daquela dos cartões-postais. Este trabalho pretende explorar o universo narrativo de Luiz Ruffato, Allan Rosas e Ferréz, a partir do conceito de “cosmopolitismo do pobre” e de “entre lugar”, cunhados por Silviano Santiago. O objetivo é pensar como, com todas as dificuldades e resistências, essas vozes tradicionalmente periféricas – ou como diz Stuart Hall, esses “Outros”, cuja representação se baseia em estereótipos que fascinam a cultura hegemônica – têm conquistado o seu lugar dentro da Literatura nacional. Conquistar aqui, significa ganhar a palavra – se antes a periferia era descrita de longe por de autores de classe-média alta branca, na literatura de Allan Rosas e Ferréz o povo à margem ousa falar sobre si próprio, sobre sua própria realidade e a partir da própria perspectiva. Um movimento em sintonia com o pensamento de autores como Appadurai, que designa as novas cartografias pós-nacionais marcadas pela multiplicação das novas mídias e das novas formas de circulação de indivíduos; Homi Bhabha, que alerta para um “terceiro espaço” aberto pela temporalidade não sincrônica entre as culturas locais e globais; Appaih, e a ideia de que esse novo “cosmopolitismo”, mais do que uma resposta, é um desafio – que exige a integração da Alteridade sem tentar domesticá-la ou diluir suas diferenças. Além de relacionar a construção do personagem Serginho, de Ruffato, com o conceito de “Cosmopolitismo do pobre”, tomaremos o romance como exemplo para pensar uma nova forma de “desigualdade social” que, também de acordo com Silviano Santiago, surge com os novos fluxos migratórios, motivados pela razão econômica e não étnica ou nacionalista. Nessas novas cartografias pós-nacionais, marcadas tanto pelo “cosmopolitismo do pobre”, pela profusão de novas mídias e facilidade de circulação de indivíduos, culturas antes à margem penetram no centro e abrem fissuras, fazendo circular “novas” vozes – como a de Ferréz e Allan Rosas – criando um novo lugar – um entre-lugar, como conceitua Silviano Santiago.
Palavras-chave: LITERATURA PERIFÉRICA, NOVAS CARTOGRAFIAS PÓS-NACIONAIS, COSMOPOLITISMO DO POBRE, ALTERIDADE
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