Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
A POÉTICA DE ARNALDO ANTUNES: DA PALAVRA AO TRAÇO EM (DES)CONSTRUÇÃO
LIVIA RIBEIRO BERTGES, VINÍCIUS CARVALHO PEREIRA
O traço fragmentário da palavra ressoa na poesia contemporânea brasileira em sua hibridização com outras manifestações artísticas. A palavra na poesia, desdobrada em letras, (des)construída em traços, abre caminhos para metamorfosear-se em formas e sentidos diversos. Nesse contexto, Arnaldo Antunes, na condição de poeta, músico, compositor e performer, brinda-nos com uma vintena de obras literárias em que abundam (des)construções verbais a explorar a visualidade, principalmente a partir da aproximação entre a palavra e o desenho. Destacam-se aqui para análise as obras poéticas Tudos (2015), com o poema “Voo”, e 2 ou + corpos no mesmo espaço (2012), com o poema “Volve”. Chama atenção nessas obras um método ou um procedimento de desenvolvimento da palavra. Este método de (des)construção sugere uma montagem visual diferente da lírica tradicional; nele a visualidade de uma palavra salta de escala ou muda ao longo de diversas páginas pelas quais se estende o poema, transbordando em desenhos na fronteira entre o verbal e o não verbal. Desta forma, pretende-se neste artigo analisar como os enlaces entre verbal e não verbal são apresentados na poética de Arnaldo Antunes. Para tentarmos tangenciar os procedimentos e as estruturas de hibridação entre a letra e o traço nos poemas de Arnaldo Antunes, escolhe-se adotar a base teórica dos estudos da semiótica. Entre as teorias semióticas, cabe-nos estudar sobretudo as perspectivas semiológicas francesas, que abordam a linguagem verbal como escritura e em interação com outras linguagens, principalmente no que tange às significações dentro do universo literário. Assim, adota-se o suporte teórico de Kristeva (1974), Roland Barthes (2004) e Jacques Derrida (2013, 1991) a fim de pensar a linguagem poética e as interseções entre o grafema e o rastro de toda incisão sobre uma superfície. Segundo Kristeva (1974), o signo poético é ambíguo; em decorrência disso, o espaço da linguagem poética também ampliará sua mobilidade, e dentro dela, no desvio dos padrões, a lógica discursiva será corrompida para ceder espaço ao poético e às implicações mais variadas de sentido que lhe subjazem. Tentar estabelecer sentido na linguagem poética é um desafio de um ser e não-ser, de significar e não significar, nos jogos de preto e branco da tinta sobre o papel, tão caros aos regimes da escrita e do desenho. Deste modo, os poemas supracitados serão lidos neste trabalho com enfoque no procedimento de (des)construção da palavra em traços que fomentam a visualidade, dando-se a ver, nesta leitura refratada, a miríade de sentidos subjacente dois poemas-desenho de Arnaldo Antunes.
Palavras-chave: ARNALDO ANTUNES, VISUALIDADE, POESIA
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