Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
A LITERATURA BELLATINIANA E A NARRATIVA PERFORMÁTICA
NATALINO DA SILVA DE OLIVEIRA
A performance enquanto lente epistemológica passa por todos as características próprias de um objeto artístico performático. Consequentemente, ela passará pela idiossincrasia do corpo e pelas questões que assolam o campo de estudos da performance. O que é corpo? Quais seus limites? A corporeidade de natureza performática se apresenta como um porvir constante que não admite imposições ou conceitualizações que limitem sua capacidade mutante. O corpo da ou na performance é transvestido, mutante, porvir. A escrita performática prescinde da performatividade corporal, de sua intangibilidade, de sua materialidade composta por vestígios, rastros, efeitos e sentidos incessantes. Deste modo, a análise aqui empreendida carrega também a forma de um conceito em constante estado de ruína. A epistemologia pensada neste artigo se apresenta como uma prática, um fazer e nem por isso deixa de ser uma reflexão por vezes tautológica sobre esta própria pragmática. Assim, pensar uma epistemologia performática da experiência estética é analisar um fazer artístico Palimpséstico que embaralha fronteira e que não está regido por regras e nem por um método dialético. Para pensar a performance é preciso também escrever um texto que respeite as características próprias do objeto e agir com performer. É pensar aquém ou além e fugir dos truísmos que podem seduzir a reflexão. Desta forma, as análises interpretativas empreendidas neste trabalho partirão da própria experiência estética performática e estará sujeita às suas incompletudes. Ainda assim, serão elaboradas pela observação, pelo fazer metafísico, pela experimentação, pela etapa política, antropogênica e de contaminação estética. Todos estes pontos são definidos com precisão nesta pesquisa. Contudo, estes elementos não constituem passos obrigatórios e nem devem engessar a experiência. A narrativa performática pode ser entendida como uma reação à narrativa pós-moderna identificada por Silviano Santiago (2002). Ao passo que a narrativa pós-moderna reconhece sua pobreza de experiência e visa abstrair-se de qualquer tentativa autoral de colocar-se nos textos e passa a preocupar-se somente com a forma, a narrativa performática, ainda que o autor se negue a expor sua subjetividade como no caso dos romances de Mario Bellatin, apresenta cacos, rastros que expressam a performatividade autoral. O narrador pós-moderno é “aquele que quer extrair a si da ação narrada, em atitude semelhante à de um repórter ou de um espectador” (Santiago, 2002, p.45). Comportando-se como um repórter, este tipo de narrador está mais preocupado com a transmissão da informação, pela maneira como é transmitida. “Ele narra da plateia, da arquibancada ou de uma poltrona na sala de estar ou na biblioteca; ele não narra enquanto atuante” (Santiago, 2002, p.45). Assim, há uma tentativa de abolir qualquer subjetividade do narrado, num esforço de empregar o mito da objetividade nos fatos narrados. O trabalho de pesquisa proposto neste artigo almeja refletir sobre o conceito de performance literária e a questão do corpo na letra ou o corpo-letra e suas implicações no terreno da teoria literária.
Palavras-chave: MARIO BELLATIN, NARRATIVA PERFORMÁTICA, BOURRIAUD, CORPO-LETRA
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