Resumo: A pesquisa propõe a problematização de uma experiência narrativa da contemporaneidade que proporciona ao leitor um produto jornalístico com tratamentos literários, chamado, portanto, de Jornalismo Literário. Esse intento se dá a partir de um apanhado histórico da estética, levando em conta as especificidades narrativas e discursivas analisadas por meio de dispositivos teóricos O objetivo principal é encontrar uma compreensão dessa vertente que apresenta um fluxo contínuo de duas vias discursivas distintas, a jornalística e a literária. Os objetivos específicos implicam fomentar um aprimoramento de ideias a respeito do tema, fornecer instrumentos úteis para a compreensão dessa poderosa fusão de dois meios de influência intelectual, que articulam a natureza de discursos distintos culminando em um suposto hibridismo do Jornalismo Literário. A interdiscursividade é uma realidade factual no discurso do Jornalismo em geral e, particularmente, do Literário, uma vez que há o encontro de duas formações discursivas com contratos de enunciação e recepção distintos. Observa-se uma relação harmônica entre tessituras discursivas na formação discursiva do Jornalismo Literário. Insta ressaltar que os mecanismos de compleição desse discurso não remetem a engodos ou jogo de palavras num floreio de caráter apenas estético. Há, incutido no discurso do Jornalismo Literário, diálogos que estão no plano de muitas outras instâncias (paradigmáticas e paradoxais, por exemplo) que são essenciais para a sua formação. A partir dos mecanismos teóricos levantados, a elaboração desse discurso deve ser encarada não só como aspecto estético dotado de inverdades e apenas fantasia, mas sim como mecanismos enunciativos e discursivos capazes de acrescentar aos discursos que já têm, por si, só, natureza aberta dialógica e polifônica. A ficção enquanto conceito proporciona, em certo sentido, as possibilidades de realidade enquanto base discursiva (mesmo que abstrata e simbólica), a mesma essencial realidade em que se constitui o discurso jornalístico. O Jornalismo Literário e seu instigante formato permitem sobreposições enunciativas, discursivas, admitem contextos de ordem divergentes, propõem rompimentos de tradições e abrem-se para transgressões discursivas cujos efeitos futuros poderemos apenas vislumbrar. Essas características evidenciam, entre outras coisas, que o Jornalismo Literário não pode ser considerado menos verdadeiro do que o Jornalismo “objetivo”. Indo além, pode, de fato, representar a realidade mais complexa e precisamente do que as formas tradicionais de redação noticiosa. Além dessas inaugurações de novos saberes, no campo da Literatura, o produto do Jornalismo Literário (o livro-reportagem, por exemplo) toca na discussão de cânone literário, uma vez que comumente incomoda e perturba por seu grande êxito editorial. Aqui se traça, assim, uma linha diacrônica que desembocará na formação discursiva peculiar do Jornalismo Literário. Perseguindo a evolução dos discursos literário e jornalístico, localiza-se este estudo no campo historiográfico, que reconhece as circunstâncias e os contextos para a análise e consideração sobre os fenômenos de linguagem aqui relacionados.