Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
A PROSA LITERÁRIA E O NARRADOR-JORNALISTA: O HERÔDOTOS DA PÓS-MODERNIDADE NA BELETRÍSTICA COLETIVA DOS JORNAIS
MARIA ELÓDIA BAÊTA GONÇALVES FERREIRA, MARCUS VINICIUS NOGUEIRA SOARES
O ato de narrar perenizado por Herôdotos nos nove volumes viscerais de História – obra datada da época alexandrina, escrita em dialeto iônio entre 450 e 430 a. C e dividida em nove livros, nomeados com as nove musas gregas - transparece um valor fundamental à inscrição de ideias: a sedimentação engenhosa de um passado mítico, lendário, canônico, na memória coletiva da humanidade. O que o pai da História e primeiro narrador grego em prosa pretendeu efetivamente comunicar traz em seu esboço a inscrição na memória dos homens de um fato histórico e social a ser reescrito e reinterpretado pelas gerações póstumas. Ao penetrar no espírito de guerrilha do império persa, esposado por um acervo de minúcias descritivas, de originalidade informativa e de senso investigativo, crítico e de observação diante de fatos narráveis, Herôdotos fez ressurgir um feito ancestral, quase anônimo, ao submeter a narrativa histórica ao terreno literário. Ao mesmo tempo, tornou tal feito cognoscível a partir de sua revivescência por meio da soberania da linguagem verbal e do recolhimento de impressões essencialmente singulares como participantes do seu método investigativo sobre a Grécia e o mundo antigos. Tal percepção sobre o jovem de Halicarnassos permite um parecer significativo acerca de um dialogismo entre o dom de narrar herodotiano e a prosa literária cotidiana do narrador-jornalista no que concerne ao senso estético de ambos ao vicejar do fato ou informação real o surpreendente. O que nos permite tangenciar a similitude entre os traços distintivos da postura textual, observacional e da linguagem do jornalismo literário com a fisionomia textual e observadora de Herôdotos configurada em suas histórias. Cerne tanto da prática quanto dos estudos em que se inspiram as mais louváveis lições do jornalismo literário como atitude textual pós-moderna. O nome de Herôdotos assume, assim, um valor fundamental: o de precursor do chamado novo jornalismo na Antiguidade, a partir da abertura de um mundo de histórias, com sua narrativa, assumindo-se memorialística, ficcional e jornalística, perfazendo-se sob o esforço do imaginário do autor de trazer a presença do leitor um real ausente que só se faz presente por força da palavra escrita, ao tempo em que perpetua paradigmas à condução das ações e opiniões humanas e a um novo sentido ao conceito de História. O enfoque aqui sugerido parte dessa compreensão inicial acerca da confluência do estilo de Herôdotos com o substrato do gesto discursivo do new journalism como criação literária, inferindo-se ser tal postura textual capaz de engendrar um novo lugar ao jornal diante do imediatismo, fugacidade e reducionismo das sociedades contemporâneas, além de meio fulcral a uma não-sucumbência da essência do narrador e do objeto livro pelo universo internético como fenômeno deste século. Para isso, apontamos como o jornalismo literário se faz reconhecível no caráter canônico, imemorial e atemporal da obra herodotiana e como suas histórias nele se reconhecem por meio da publicização de um saber social de domínio público só possível ao beletrismo coletivo do jornalismo impresso.
Palavras-chave: JORNALISMO LITERÁRIO, JORNAL, HERÔDOTOS, PÓS-MODERNIDADE
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