Dinair de Fonte Silva – Mestranda em Literatura Brasileira (UERJ)
João Anzanello Carrascoza é considerado um dos expoentes da nova geração de escritores brasileiros. Porém, trata-se de um autor ainda desconhecido pelo grande público e, sobretudo, no meio acadêmico. Há pouquíssimos trabalhos sobre este autor, que se ocupa em sua obra de grupos sociais e registros afetivos pouco explorados na prosa brasileira das últimas décadas e que produz narrativas que tentam, de certa forma, recuperar do esquecimento um conjunto variado de experiências cotidianas.
Carrascoza é um dos autores contemporâneos que podem ter os escritos lidos por um viés realista, mas que não têm nada a ver com um realismo mimético, cheio de certezas e de noções de totalidade. Autores que, segundo o professor Karl Erik Schollhammer (2011), fazem uma literatura que trata dos problemas sociais de nosso tempo, mas não exclui a dimensão pessoal e íntima, não privilegia apenas a realidade exterior.
De acordo com o professor, em seu livro Ficção brasileira contemporânea (2011), atualmente há dois estilos literários em que se pode observar uma tendência realista contemporânea. O primeiro traz autores que atuam em uma perspectiva de “reinvenção” do Realismo, na busca de se refazer a relação de responsabilidade com os problemas sociais contemporâneos, ainda na herança do Neorrealismo.
Dentre esses autores se destacariam Marçal Aquino e Marcelino Freire. Carrascoza se encaixaria no segundo estilo, uma literatura mais próxima do cotidiano, autobiográfica, usando do cerne da vida ordinária em seus pequeníssimos detalhes. Junto com ele encontramos autores como Adriana Lisboa, Michel Laub e Rubens Figueiredo.
Em O volume do silêncio (2006), vemos a confirmação do talento de João Anzanello Carrascoza para compor textos com uma linguagem delicada, que extrai iluminações das experiências da vida comum. O livro é o balanço da produção contística de Carrascoza e os dezessete contos que o preenchem, selecionados por Nelson de Oliveira, revelam, mesmo que de forma breve, a trajetória singular de um autor ímpar no cenário literário atual.
Nos contos que integram o volume lançado pela editora Cosac Naify, pequenas epifanias da vida cotidiana põem em cheque o intervalo entre o eu e o outro. Elas acontecem entre pessoas solitárias que, separadas e pelo dia-dia, em certo momento se encontram. A maior parcela das epifanias se esconde no relacionamento familiar, como veremos nos contos “O vazo azul”, “Chamada”, “Iluminados”, “Duas tardes”, Visitas e “O menino e pião”. Entre sentimentos interiores e imagens externas, encontramos o silêncio, a quietude, uma unidade daquilo que é claramente dito, mas, sobretudo, do que não é dito.
Tudo isso justifica e estimula uma tentativa de investigar os contos desse autor, porque tal investigação apresenta uma oportunidade singular de pesquisar como essa tendência realista contemporânea se apresenta em seu texto, já que esta é uma questão diferente e específica que tem se destacado na crítica acerca da produção produzida na atualidade.
Palavras-chave: LITERATURA BRASILEIRA, FICÇÃO CONTEMPORÂNEA, CONTO