DANILO SALES DE QUEIROZ SILVA, MIRELLA MÁRCIA LONGO VIEIRA LIMA
Investigamos a recorrência do tema da decadência familiar partindo do romance Cinzas do Norte de Milton Hatoum. Analisando aspectos da disjunção parental que aparecem na narrativa, comparamo-la com a de romances afins, como Os Maias de Eça de Queirós. Traçamos alguns paralelos entre as obras estudadas, verificando algumas linhas de forças que nos permitem associá-las: o tratamento complexo da união familiar, a representação metonímica do laço simbólico da sociedade a qual os escritores se referem, a crítica à disjunção geracional. Classificando os textos como romances de decadência familiar, notamos que, nas narrativas em estudo, a quebra entre gerações conduz à queda familiar e, em grande parte das vezes, é concomitante à contaminação de todo ambiente - seja a natureza, a saúde dos personagens ou o universo político em crise. A maldição que parece presente de maneira contínua em certa tradição lusófona - como faz lembrar a inicial "M" em diversos sobrenomes das famílias destruídas, como os Meneses de A crônica da casa assassinada de Lúcio Cardoso - desencadeia a desagregação do grupo familiar, desde sempre ameaçado pelo germe da diferença que se encontra na sua formação. Estudamos, nesse trabalho, as famílias como representações metonímicas das sociedades e das nações em que se desenrolam as histórias dos romances, apontando para a crítica que fizeram os romancistas sobre o seu próprio tempo. Por meio da análise das crises por que passavam os ambientes em que viviam, os escritores parecem associar as trajetórias destrutivas dessas famílias em queda aos caminhos que tomava a sociedade de suas épocas.
Palavras-chave: LITERATURA COMPARADA, DECADÊNCIA FAMILIAR, CRÍTICA SOCIAL