Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
ENTRE A TENSÃO E A BANALIDADE: NARRATIVAS DA VIOLÊNCIA NO CONTO BRASILERIO DO SÉCULO XXI
LUANA TEIXEIRA PORTO
Ao abordar problemas sociais, os textos literários constroem uma leitura da sociedade, de um momento histórico, de uma forma de pensar e agir socialmente. Nesse sentido, a possibilidade de representação social na literatura é ampla. Grupos minoritários e suas dificuldades de inserção e aceitação social (negros, pobres, mulheres, homossexuais, índios, entre outros), repressão social e política em contextos autoritários, imigração, exílio, subjetividades em crise, violência social e simbólica são alguns dos temas recorrentes na prosa brasileira contemporânea. Esse último tema, de modo especial, tem sido objeto de reflexão de pesquisadores interessados em desvendar as relações entre sociedade, violência, literatura, incluindo ainda obras artísticas de outra natureza, como o cinema. Nessa perspectiva, merecem destaque trabalhos críticos de estudiosos como Jaime Ginzburg, Karl Erik Schollhammer, Tânia Pellegrini e Regina Dalcastagnè, os quais, com base em postos de vista crítico e objetos de análise diferentes, acentuam a presença da violência na arte brasileira e de uma articulação entre forma estética e problematização da violência. A representação da violência é intensa na literatura contística contemporânea. Escritores como Rubem Fonseca, Caio Fernando Abreu, João Gilberto Noll, Sérgio Sant’Anna, Marcelino Freire, Marçal Aquino e Beatriz Bracher construíram narrativas curtas que acenam para a violência como um dos traços que singularizam o sujeito e o espaço social no contexto brasileiro, seja através de uma violência simbólica que caracteriza muitas vezes as relações pessoais e as relações entre civis e Estado, seja a violência social, que atinge não só a integridade do sujeito, mas também a estrutura social, revelando a necessidade de haver uma discussão sobre o papel da arte e a necessidade de construção de políticas de enfrentamento de práticas de violência. Assim, este trabalho discute problematizações acerca da violência propostas por contos brasileiros, acentuando a reflexão sobre a as relações entre sociedade, espaço urbano e violência, já que esta e sua representação manifestam-se de forma prioritária em contos cujo enredo desenvolve-se em contextos citadinos. Interessa observar o modo como narrador abordam o tema da violência social e as estratégias estéticas adotadas para isso. O objetivo deste estudo é investigar relações, expressas em contos literários em prosa produzidos no século XXI, entre literatura e violência para ampliar o debate acerca dos diálogos entre literatura e sociedade no Brasil numa perspectiva comparatista. Além disso, busca-se identificar de que forma o conto brasileiro do século XXI aborda práticas de violência enraizadas ou surgidas na cultura brasileira a fim de discutir o sentido e a função social das narrativas curtas que problematizam a violência no contexto histórico-social-político-cultural do Brasil. Para isso, examina-se de modo especial narrativas de Beatriz Bracher, Marcelino Freire e Marçal Aquino publicadas a partir dos anos 2000. Ao desenvolver um estudo crítico dessa narrativa, nota-se a presença de uma estreita relação entre literatura e representação da violência, apontando-se esta como fator motivador para práticas de violência e exclusão social no Brasil que são problematizadas via forma narrativa e linguagem literária. Além disso, observa-se uma oscilação entre o tensionar a violência e banalizá-la na representação literária dos autores examinados.
Palavras-chave: CONTO, VIOLÊNCIA, COMAPRAÇÃO
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