Em 1857, o romance "Madame Bovary", de Gustave Flaubert, provocou grande polêmica na sociedade francesa, ao contar a história de Emma Bovary, mulher cujo sonho era viver as aventuras dos romances românticos que lia. Guiada por esse desejo, Emma envolve-se em adultério. Para a sociedade da época, essa temática foi tão chocante que o escritor foi levado a julgamento na tentativa de penalizá-lo. Ao ser indagado sobre a questão, Flaubert respondeu com a célebre frase: “Madame Bovary sou eu” (“Madame Bovary c’est moi”). Este trabalho pretende propor uma leitura de três personagens femininas de seus contos, relacionando-as às características narratológicas do próprio texto. Faremos menção ao mundo exterior àquele criado em cada história somente nas situações em que a própria organização textual assim o exigir. Neste ponto, é fundamental destacar o método de estudo adotado para a realização deste trabalho. Propomos uma análise das personagens femininas de Edgar Allan Poe à luz dos estudos desenvolvidos por Carlos Reis – referência mundial de estudos sobre as obras em língua portuguesa, especialmente de Eça de Queirós. Pensar Allan Poe a partir dos questionamentos de Carlos Reis significa estudar as personagens e os seus modos de figuração, buscando “saber como, em diversos tempos e em diversos gêneros narrativos, se processa a construção da personagem, nos planos ficcional e discursivo. De certa forma, trata-se de ‘recuperar’ uma categoria narrativa que o estruturalismo e mesmo a narratologia tinham subalternizado e que os modernos estudos narrativos recuperaram”.
Palavras-chave: DUPLO, FEMININO, PERSONAGEM, EDGAR ALLAN POE