Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
ORDEM, DESORDEM E MALANDRAGEM: ELEMENTOS ESTRUTURAIS NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO URBANO EM "MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS" E EM "MADAME POMMERY"
VERA HELENA PICOLO CECCARELLO, ELIDE RUGAI BASTOS
O desenvolvimento e a modernização da sociedade brasileira podem ser representados por duas cidades em especial: Rio de Janeiro e São Paulo. A primeira, capital do Império, recebeu a corte portuguesa e foi berço da belle époque e da vida moderna no século XIX; a segunda se transformou em pouco tempo de província a centro urbano e industrial, mudando o panorama, a vida social e econômica do país no século XX. A literatura urbana teve papel importante como forma de reconhecer esses momentos distintos e suas particularidades. Do Romantismo ao Modernismo, a cidade passou por mudanças significativas e seus contextos diferenciados podem ser reconhecidos nos personagens, principalmente nos romances de costumes. Porém, algumas características permaneceram semelhantes, porque são estruturais e fundantes da sociedade brasileira. Uma delas é a dialética entre a ordem e a desordem, denominada por Antonio Candido em “Dialética da malandragem” como sendo um aspecto geral da sociedade brasileira. À luz dessa hipótese, o objetivo deste trabalho é analisar como a ordem e a desordem se articulam em dois romances representativos: em Memórias de um sargento de milícias (1854), de Manuel Antonio de Almeida e em Madame Pommery (1920) de Hilário Tácito. Apesar de estarem inseridos em dois contextos diferentes, ambos tem em seu bojo a crítica social, a ironia e a sátira como nortes narrativos. O Rio de Janeiro das Memórias se insere no período joanino do século XIX e o foco específico do romance não eram os escravos ou os senhores, mas uma camada social limítrofe: os homens brancos, livres e pobres. A lógica do favor e a busca por reconhecimento permeava a vida dos personagens, especialmente do malandro Leonardinho – para seguir a categorização de Candido. No caso de Madame Pommery, o contexto é o início da modernização de São Paulo no século XX. A protagonista que dá nome ao romance é dona de um bordel, um microcosmo no qual transitam coronéis, doutores, bacharéis, profissionais liberais e burocratas de todas as espécies. Pommery constrói as suas relações de amizade e de interesse como forma de reconhecimento e ascensão social. Assim, apesar das diferenças entre eles, a lógica da ordem e da desordem pode ser percebida de diversas maneiras em cada um dos romances. Busca-se demonstrar ainda que a malandragem não é apenas um traço cultural e abstrato do Brasil, mas um mecanismo social importante que permite o trânsito entre a ordem e a desordem, fazendo com que os personagens marginalizados e considerados anti-heróis transitem livremente entre uma esfera outra, encontrando seu espaço de ação.
Palavras-chave: MODERNIZAÇAO, ORDEM E DESORDEM, LITERATURA URBANA, ROMANCE DE COSTUMES
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