Este artigo busca refletir sobre o projeto e a produção modernista, no período compreendido entre a publicação do livro Macunaíma, de Mario de Andrade, em 1928, e o aniversário da Semana de 22, registrado pelo próprio Mario de Andrade, na palestra que proferiu, a convite, no Auditório da Biblioteca do Itamarati, em 30 de abril de 1942, com a apresentação do texto O Movimento Modernista. Para o objetivo desta apresentação, o livro Macunaíma será lido e comentado como um manifesto dos principais preceitos modernistas, entre eles, a prática da antropofagia cultural e artística e a defesa de uma língua falada brasileira em contraposição a uma língua escrita herdada de Portugal. Neste sentido, apontamos inicialmente a efetiva contraposição da linguagem utilizada no Capítulo 9, intitulado Carta para as Icamiabas, ao uso da língua brasileira operacionalizado nos demais capítulos do livro. A oposição da linguagem lusitana, na modalidade escrita, traz para o primeiro plano da obra a ironia refinada do autor em relação aos propósitos de uma certa literatura brasileira que não escapou de "arremedar" e diminuir suas perspectivas pela lógica do modelo e da influência passivas. A visada antropofágica, realizada em Macunaíma, será tratada nesta apresentação por meio de uma leitura voltada às suas intenções de manifesto e proposição de ações para se construir uma literatura capaz de realizar o projeto marioandradiano da língua e da cultura brasileiras, de modo a desafiar e redimensionar a lógica da influência. Está claro que a abordagem do livro de Mario de Andrade não escapa, nesta perspectiva, da relação direta com os Manifestos Antropófago e Pau-Brasil, com os quais compõem o ideário modernista que ativará uma profusão de textos empenhados e realizações que confirmam por um lado, e desafiam por outro, o projeto modernista para a literatura brasileira. Um outro Mario de Andrade será evocado do texto O Movimento Modernista, de 1942, no qual o escritor faz o inventário das décadas anteriores de modo a atualizar o projeto de 1922
Palavras-chave: MACUNAÍMA, O MOVIMENTO MODERNISTA, MANIFESTO ANTROPÓFAGO, MANIFESTO PAU-BRASIL