Este trabalho objetiva através dos poemas “ Espelhos Tortos” e “ Espelhos negros” da poeta Cristiane Sobral explanar os diálogos que a poesia pode exercer com o imaginário sócio- cultural brasileiro. Em consonância com Bourdieu, considerarei neste trabalho a literatura como um sistema simbólico em que ideologias são difundidas e/ou contestadas. Ainda considerarei a literatura como um discurso que age na sociedade e/ou é influenciado por ela, isto não é desconsiderá-la enquanto arte, mas sim demonstrar a sua função discursiva e seu poder gerador para a difusão de ideologias, ora estereotipadas das minorias sociais, ora enaltecedoras da classe ou grupos dominantes. A vida social é constituída por relações de poder, estas que buscam delimitar as noções de verdade e de padrões. Analisando a literatura na perspectiva de território e de representação, Regina Dalcastagnè esboça em Literatura brasileira contemporânea: um território contestado (2012:18) como “as barreiras simbólicas determinam o lugar de cada um”, além de refletir como o território literário na contemporaneidade é repleto de vozes que buscam desconstruir representações e contribuir com outras perspectivas e reflexões que tratam de seu cotidiano e das relações sociais que experienciam. Para melhor compreender este funcionamento da literatura como discurso, apoio-me na Teoria Social do Discurso de Norman Fairclough (2001) que considera a linguagem muito mais que uma representação e sim uma ação sobre o mundo. A literatura é um uso da linguagem e um exercício de comunicação que constrói saberes, estes que possibilitam a construção de modelos mentais que são constituintes da esfera simbólica social. Na perspectiva da Análise Crítica do Discurso (ADC), o discurso é considerado uma prática, “uma atividade socialmente regulada”, isto nos permite considerar, no presente trabalho, a literatura como uma prática sócio discursiva interligada às relações de tempo-espaço, como já considerava Bakhtin ao propor o conceito de cronotopo para refletir sobre a construção polifônica e enunciativa do romance. A metáfora do espelho já foi utilizada pelos escritores brasileiros Machado de Assis e Guimarães Rosa, podemos perceber em seus contos, ambos intitulados “O Espelho”, a relação do sujeito com o mundo social, onde somos entrecruzados por ideologias que influenciam na visão de mundo do sujeito e no modo como este se ver. Nos dois poemas em questão utilizam da mesma metáfora, porém em uma perspectiva pluralista , “ espelhos”, podendo assim compreender que há diversidade de identidades e também é diverso os modos como nos percebemos através das ideologias e crenças que adquirimos nas interações sociais.
Palavras-chave: CRISTIANE SOBRAL, IMAGINÁRIO SÓCIO-CULTURAL, ANÁLISE DO DISCURSO CRÍTICA