Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
ENTRE RUÍNAS, ESTILHAÇOS E SILÊNCIOS: OS FRAGMENTOS LITERÁRIOS EM "CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA".
LUIZ ANTÔNIO DA CRUZ JÚNIOR, FRANCINE FERNANDES WEISS RICIERI
“Crônica da casa assassinada”, de Lúcio Cardoso, é uma obra que pode ser equiparada a outras importantes obras literárias nacionais e internacionais. Ela permite inúmeras leituras e análises, sob diversos aspectos e campos. Tida como o ápice romanesco de seu autor e de estrutura complexa, a obra cardosiana narra a ruína moral e financeira da família Meneses que, completamente estilhaçada, tenta sobreviver aos tempos e condições que vive. A diegese é permeada por temas perturbadores como: inveja, adultério, paternidade, incesto e loucura. Por meio de sua arquitetura textual e narrativa, nas construções imagéticas e de sentido que faz, é possível tanto deleitar-se quanto horrorizar-se com a obra que, por sua vez, traz importantes e questionadores paradoxos, dentre eles: Feio e Belo; tradição e novo; sanidade e insanidade; certo e errado. Feita de várias vozes, fragmentária e lacunar, que mais esconde que esclarece, a não linear narrativa parece imergir nas questões existências do ser e pôr em xeque os valores sociais, expondo, assim, algumas feridas sociais intocáveis para muitos. O ambiente melancólico, fechado para o mundo e de constantes embates intra e interpessoais em que as personagens vivem, bem como as angústias, as mazelas e questões existenciais das personagens, levam os que se debruçam sobre a obra a fazer uma leitura povoada de pensamentos e reflexões. Não há dúvidas de que “Crônica da casa assassinada” traz importantes contribuições para as discussões de ética, estética e filosofia, afinal, a composição de seu texto se dá a partir de um autor consciente destas questões, leitor assíduo, crítico tradutor e estudioso, não só de literatura, mas de filosofia e psicanálise, e que parece refletir sobre tudo isso em sua obra e trazer suas reflexões através de um texto que foge aos “ditames estabelecidos pelos padrões”. Seu texto fragmentário serve de palco para vários estudos. Segundo Márcio Scheel (2010), o fragmento literário é um gênero aberto que oferece a impressão de inacabamento, representa a partição, o estilhaçamento da totalidade constantemente buscada, mas definitivamente perdida. Neste sentido, parece que Lúcio Cardoso nesta obra, metaforiza, pelos fragmentos, além das muitas outras questões estéticas que a compõem, a busca dos Meneses por recompor os tempos áureos de outrora, assim como o autor parece também metaforizar reflexos de uma sociedade que está em ruínas, estilhaçada, fragmentada que busca a totalidade perdida. Logo, o objetivo desta comunicação é, por meio da apresentação da obra e de um olhar analítico para seu texto, refletir sobre as questões que estão diretamente ligadas ao tema a que se pretende o presente simpósio, de forma a apresentar significativas contribuições para um novo olhar sobre “Crônica da casa assassinada” e os estudos literários.
Palavras-chave: CRÔNICA, FRAGMENTO LITERÁRIO, HIBRIDISMO
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