UMBERTO DE SOUZA CUNHA NETO, JEFFERSON AGOSTINI MELLO
Visando a colaborar nos questionamentos que o Simpósio 44 procura levantar, é possível estudar a recepção da literatura contemporânea estrangeira de língua portuguesa em Portugal; é justamente sobre esse tema que a comunicação proposta se debruça. A presença de uma obra em outro território, seja ela científica ou literária, implica uma série de “operações sociais” envolvidas no que Bordieu chamou de “circulação internacional das ideias” (BORDIEU, 2002). Quando pensamos nas literaturas escritas em língua portuguesa, e na circulação internacional dentro do que se chama atualmente de Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) vemos que as operações sociais envolvidas aí incluem fatores como, em primeiro lugar, a relação marcada pelo passado colonial, principalmente quando pensamos nos países africanos de língua oficial portuguesa – já que o imperialismo colonial português em África se estendeu até os anos 1970, diferentemente do colonialismo português no Brasil. Em segundo lugar, há fatores particulares dentro do campo literário português (o conceito de campo literário aqui utilizado tem como base a obra de Pierre Bourdieu, 2002: campo se refere à relativa autonomia da produção e dos produtores literários e às tensões e disputas entre os agentes em sua busca de legitimação dentro de um determinado país) que podem influenciar a recepção de uma literatura naquele país. Partindo dessas informações, essa comunicação se propõe a analisar textos da imprensa portuguesa e tratar de semelhanças e diferenças nas leituras que se fazem, em Portugal, de autores brasileiros e africanos de publicação mais recente. Elegemos textos publicados nos jornais portugueses Público, Expresso, Diário de Notícias, entre outros, como corpus – dada a maior tiragem e importância na vida pública portuguesa, de tais veículos, sobretudo do jornal Público, o qual permite maior acesso via online de seus textos e cujas tiragem e importância são maiores. Nestes, verificaremos resenhas, artigos, notícias, reportagens e entrevistas a respeito de autores de língua portuguesa premiados, é o caso dos brasileiros Bernardo Carvalho, Milton Hatoum e Chico Buarque (vencedores de prêmios literários como Portugal Telecom e Jabuti), num contraste com textos acerca de diferentes autores também premiados de países africanos, como Ondjaki (vencedor dos prêmios Jabuti e José Saramago), além de Mia Couto, Arménio Vieira e Pepetela (vencedores do Prêmio Camões). Pensando no Brasil como um dos países de maior importância para a colonização portuguesa entre os séculos XVI e XIX, e os países africanos de língua oficial portuguesa com seus sistemas literários recém-formados e recente independência política, quer-se cotejar as leituras que autores de um e outros países recebem, estando todos eles na periferia da chamada “República mundial das letras” (CASANOVA, 2002) e tendo uma relação de passado colonial com Portugal.
Palavras-chave: LITERATURA CONTEMPORÂNEA, RECEPÇÃO, CRÍTICA DA IMPRENSA, SOCIOLOGIA DA CULTURA