Um dos debates mais prementes na produção literária contemporânea se dá em torno do acesso de autores por assim dizer outsiders às instâncias restritas de produção e de consagração. Isto é, como em outros campos, o debate atual se dá em torno do problema da democratização, que, no caso das artes, deveria envolver não apenas a distribuição de bens culturais ao público em geral, mas também uma maior representatividade de autoras e autores, com seu respectivo público, em um circuito que se quer cada vez mais diverso, e, ao mesmo tempo, mais identitário. Nesta comunicação, pretendo discutir, especificamente, algumas estratégias textuais e performáticas de acesso ao polo restrito do campo literário as quais vêm sendo utilizadas por parte de alguns autores da chamada literatura periférica paulistana. Por meio do exame dessas estratégias, que se valem por vezes de um substrato violento, de revide, e de um afastamento proposital e performático dos leitores de classe média, procuro demonstrar que se, em um primeiro momento, elas são formas de contestação do status quo literário, em um segundo momento, servem, paradoxalmente, para que seus agentes construam articulações seja com seus pares, seja com produtores culturais consagrados. Antes de me deter na análise de obras e autores, ainda na primeira parte do argumento, destaco a conjuntura histórica que contribuiu para a ascensão dessa literatura, desde as suas primeiras produções nos anos 1990, vinculadas sobretudo à emergência do rap e a um contexto social de ascensão do Partido dos Trabalhadores até as novas gerações e ao ressurgimento, no Brasil, dos movimentos sociais identitários. Em paralelo a esse contexto mais amplo, analiso a recepção da crítica universitária aos novos autores. Ao final da comunicação, traço algumas hipóteses em torno do ingresso e da permanência da literatura periférica em um campo de produção simbólica tão restrito quanto o literário, examinando, igualmente, novidades e rupturas introduzidas pelos autores da periferia.
Palavras-chave: LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA, LITERATURA PERIFÉRICA, PERFORMANCE, SOCIOLOGIA DA LITERATURA