Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
BOVARISMO EM "AS NETAS DA EMA", DE EUGENIA ZERBINI
ROSANA ARRUDA DE SOUZA, FAUSTO CALAÇA GALVÃO DE CASTRO
Neste trabalho, pretendemos demonstrar como a história da protagonista do livro “As netas da Ema” (2005), de Eugenia Zerbini, se relaciona ou se aproxima das discussões sobre o bovarismo, a capacidade do ser humano de se conceber outro, conceito cunhado pelo filósofo francês Jules de Gaultier, com base no romance “Madame Bovary” (1857), de Gustave Flaubert. Para alcançar o objetivo, dialogamos com autores contemporâneos que discutem sobre bovarismo, como Carvalho (2014) e Hossne (2000); bem como Butler (2003), Dalcastagnè (2005) e Hall (2005) para reflexão de outros pontos relevantes na narrativa. A primeira obra de Jules de Gaultier sobre o bovarismo data de 1892, intitulada “Le bovarysme: la psychologie dans l’oeuvre de Flaubert”. O termo bovarismo deriva do sobrenome de casada da protagonista do romance “Madame Bovary”, romance famoso e muito utilizado ainda nos dias de hoje nos cursos acadêmicos, sobretudo os de Letras. Como é protagonizado por uma mulher, no contexto histórico francês do século XIX, sua história entra em discussões sobre o feminino/feminismo e em áreas interdisciplinares. Além de “Madame Bovary”, outros romances tratam, ou se aproximam, da temática do sujeito que busca ser outro, insatisfeito com quem/o que é. Em 2005, no Brasil, a escritora paulista Eugenia Zerbini publicou “As netas da Ema”. Como o título indica, o livro é inspirado em “Madame Bovary”. Porém, o contexto sócio-histórico é outro – há em “As netas da Ema” não a mulher do século XIX — insatisfeita com sua condição feminina pela falta de liberdade e impossibilidade de ascender socialmente, como é retratado em “Madame Bovary” — mas a mulher do século XXI, independente, que pôde estudar, trabalhar, viajar muito e usufruir de plena liberdade na vida para consecução de seus objetos profissionais e econômicos. Embora de tempos e condições diferentes, as protagonistas desses romances têm algo em comum. A narradora-personagem de “As netas da Ema” é, apesar da ascensão profissional e econômica, infeliz como Emma Bovary, protagonista de “Madame Bovary”. A infelicidade da que se chamou ‘neta da Ema’ provém da ausência de marido e filhos na vida, resultando em uma inveja da Emma flaubertiana, que se casou e teve uma filha. É levando em conta esses diferentes contextos que se fará um breve diálogo entre essas obras, a fim de se perceber que, embora ambas tratem da história de mulheres infelizes, insatisfeitas pela não realização de seus desejos ao longo da vida, e ambas expressem o desejo de ser outro, o outro em cada obra não é o mesmo. A narradora-personagem de “As netas da Ema” deseja usufruir dos papéis de mãe e esposa de Emma Bovary e esta tem o desejo de ser livre tal como ela pensava que os homens eram, a aristocrata, a amante; e as duas desejam ser felizes.
Palavras-chave: BOVARISMO, AS NETAS DA EMA, MADAME BOVARY
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