Anais
RESUMO DE ARTIGO - XVIII CONGRESSO INTERNACIONAL ABRALIC
Da produção ao silêncio sobre o romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis
Renato Kerly Marques Silva (Universidade Federal de Santa Catarina)
Este trabalho parte da análise das práticas culturais (CHARTIER, 1988) mobilizadas na elaboração, produção e divulgação do romance Úrsula (1859), de Maria Firmina dos Reis, para pensar questões que influenciaram o período de esquecimento da obra. Em relação aos elementos que compõem o livro, ressalta-se: a associação da narrativa ao Romantismo, com inserção de uma forte crítica à sociedade escravocrata; a presença do prólogo, em que a escritora se desculpa por adentrar em um espaço dominado por homens; e a omissão do nome da autora. Sobre a divulgação, destaca-se: a realização de campanhas de subscrição para atrair compradores; a divulgação do nome da autora após o início da circulação do livro; a publicação de anúncios de venda em diferentes jornais de São Luís, província do Maranhão, durante um período de aproximadamente dois anos; e a colaboração da escritora em diferentes periódicos e antologias publicados naquela cidade. A análise desses elementos indica que sua autora e as pessoas envolvidas na edição e venda do livro mobilizaram diferentes estratégias para atrair a atenção do público leitor. No entanto, após sua publicação teve início um período de silêncio sobre a obra. Pensar o esquecimento do romance e de sua autora remete ao sexismo e à defesa da escravidão como elementos que atuaram para a delimitação da literatura que poderia ser reconhecida como representativa daquela sociedade. O processo de resgate da autora realizado por pesquisadoras orientadas pela Crítica Feminista, na década de 1990, confirma essa hipótese e expõe como o reconhecimento de escritoras do século XIX é perpassado por orientações que extrapolam a dimensão estética do texto literário (MUZART, 1999).
Palavras-chave: Maria Firmina dos Reis; Úrsula; História do Livro; Crítica Feminista.
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