Com o advento da Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional, ferramenta que permite consultar o acervo de jornais e revistas da FBN, foi possível obter, em pesquisa realizada nos anos de 2014 e 2015, informações relevantes sobre a primeira circulação em solo brasileiro da obra dos irmãos Edmond e Jules de Goncourt, escritores naturalistas e foco do interesse deste trabalho. Dentre as obras literárias dos irmãos Goncourt de que se tem notícia no campo literário brasileiro, Sœur Philomène (1861) se destaca como aquela de maior vulto, aparecendo tanto em notícias sobre sua recepção e circulação na Europa, quanto traduzida na seção folhetim e em livro, em grande parte do país. Esse fato suscitou questionamentos sobre a causa de tamanho sucesso no Brasil, fazendo-se necessário apurar as informações acerca da circulação e recepção desse romance também na França, isto é, desde sua gênese. Na atual fase de pesquisa, propomos uma abordagem comparativa da recepção e circulação do romance Sœur Philomène na França e no Brasil, objetivando reconstituir parte da historiografia literária que concerne a esse romance e suas relações com a estética naturalista, sob a ótica da dinâmica das práticas literárias em um cenário transnacional. Dentre os diferentes momentos de circulação desse romance, destacamos aqui o ano de 1887 e os anos subsequentes, quando Sœur Philomène ganhou uma ressignificação pela adaptação e montagem no teatro francês por André Antoine e sua trupe, sendo associada aos modos e modelos naturalistas já reconhecidos pelo público e pela crítica. A fim de trazer para a discussão que valores estéticos, traços estilísticos foram destacados e/ou atribuídos pela imprensa a Sœur Philomène e qual foi a atuação dos mediadores culturais e que valores estéticos defendiam na promoção desse romance na França e no Brasil, atentamos para as instâncias de mediação e os mecanismos pelos quais os campos literários francês e brasileiro reconheceram e acolheram esse romance, desde a sua primeira impressão, em 1861, até 1914, com o fim do longo século XIX. À luz do conceito de transferência cultural e da noção de mediador (ESPAGNE, 2013), colocamos em perspectiva as informações encontradas em jornais e revistas de ambos os países, sob o viés da sociologia da cultura (BOURDIEU, 1994, 1992) e da sociodiscursividade (MAINGUENEAU, 2004), que articulam a ampla percepção da literatura e de seus valores estéticos pela imprensa da época com os modos e modelos literários que integraram os campos literários francês e brasileiro no período em questão (BAGULEY, 1995; BECKER, 2011).
Palavras-chave: IRMÃOS GONCOURT, SŒUR PHILOMÈNE, NATURALISMO, TRANSFERÊNCIA CULTURAL