Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
OS NATURALISMOS DE FIGUEIREDO PIMENTEL EM O ABORTO E UM CANALHA
RENATA FERREIRA VIEIRA, LEONARDO MENDES
Na versão da historiografia tradicional sobre o naturalismo no Brasil, os romances são lidos como cópias (às vezes mal sucedidas) dos romances experimentais do escritor francês Émile Zola (1840 – 1902) (MENDES, 2006a). Desse ponto de vista, o naturalismo no Brasil, dissociado do conjunto de circunstâncias modernizantes da época – como a crise do regime escravocrata e patriarcal, a disseminação do pensamento materialista, as campanhas pela abolição e pela república (MELLO, 2007) –, foi um movimento imposto pelos modismos da literatura francesa, sendo mal assimilado pelos escritores nacionais (PEREIRA, 1988). Embora a leitura da crítica canônica tenha sido legitimada pelos manuais de ensino de literatura a partir do século XX, na década de 1890 as leituras dos homens de letras sobre as ficções naturalistas eram mais complexas e abrangentes, indicando o caráter multifacetado e paradoxal do naturalismo. Entre os leitores dos romances naturalistas do final do século XIX, encontravam-se nomes de críticos renomados da imprensa, como José Veríssimo (1857– 1916), Araripe Júnior (1848 – 1911), Silvio Romero (1851 – 1914), Valentim Magalhães (1859 – 1903) e Artur Azevedo (1855 – 1908), assim como outros articulistas fora da tradição crítica. Nas leituras desses intelectuais, o naturalismo era uma estética nada uniforme, compreendendo uma gama de significados que expandiam a concepção de “romance científico? a partir do modelo do naturalismo de Zola. Em 1889, no artigo ‘O Romance Naturalista no Brasil’, Veríssimo sugere a ideia de ‘naturalismos’ na arte literária, ao comentar, a seu ver, a “embaraçosa declaração” de Aluísio de Azevedo, no prefácio do romance O homem (1887), de que o naturalismo continha “ideias bem claras e seguras” (VERÍSSIMO, 1977). Segundo Veríssimo, a recepção crítica não tinha certeza absoluta da definição do naturalismo no “mundo literário”, pois havia uma diversidade de estilos e autores naturalistas atuantes na época, que circulavam nas leituras dos críticos e dos leitores comuns (VERÍSSIMO, 1977). A consideração à dispersão de sentidos e significados atribuídos ao naturalismo pela crítica literária do final do século XIX nos ajuda a perceber os vários subgêneros e modos de execução da estética. Para a historiografia tradicional só interessou a leitura via naturalismo científico, relegando para lugares periféricos outros subgêneros da estética, como o irônico e satírico, o banal e o (rechaçado) pornográfico. Não encontrando lugar na historiografia, as outras modalidades do naturalismo foram excluídas e apagadas da memória coletiva. É nessa condição que se encontram, nos dias atuais, os romances do escritor fluminense Alberto Figueiredo Pimentel (1869 – 1914), O aborto, publicado pela Livraria do Povo em 1893, e Um canalha, pela Laemmert em 1895, respectivamente relacionados às acepções do naturalismo como “pornografia” e como “estética da banalidade”. Motivado pelo interesse de escrever a história do escritor Figueiredo Pimentel como autor de romances naturalistas, este trabalho tem como objetivo apresentar a trajetória desse escritor naturalista brasileiro esquecido e as primeiras recepções de O aborto e Um canalha pelos homens de letras – escritores, críticos e editores – e pelo leitor comum, adotando uma concepção ampliada de naturalismo e atentando para seus variados subgêneros e modos de execução (BAGULEY, 1990). BIBLIOGRAFIA BAGULEY, David. Naturalist fiction. The entropic vision. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. MELLO, Maria Tereza Chaves de. A república consentida: cultura democrática e científica do final do Império. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. MENDES, Leonardo. As qualidades da incorreção: o romance naturalista no Brasil. In: MELLO, Celina Maria Moreira de; CATHARINA, Pedro Paulo Garcia Ferreira (Org.). Crítica e movimentos estéticos: configurações discursivas do campo literário. Rio de Janeiro: Sette Letras, 2006a. p. 137-165. PEREIRA, Lucia Miguel. Prosa de ficção (de 1870 a 1920): história da literatura brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia, 1988. PIMENTEL, Alberto Figueiredo. O aborto. Rio de Janeiro: Livraria do Povo: Quaresma &Comp., 1893. ______. Um canalha. Rio de Janeiro: Livraria Laemmert, 1895. VERÍSSIMO, José. Teoria, crítica e história literária. Seleção e apresentação de João Alexandre Barbosa. São Paulo: Edusp, 1977.
Palavras-chave: FIGUEIREDO PIMENTEL, NATURALISMOS, HISTORIOGRAFIA
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