Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
ONDE ESTÁ A PAIXÃO? ONDE ESTÁ A POLÍTICA? UMA TENSÃO DO PENSAMENTO EM DIREÇÃO À DANÇA
MARIANA PATRÍCIO FERNANDES
O presente trabalho toma como ponto de partida as indagações levantadas por duas artistas da dança cujas obras se relacionam de forma intensa com a literatura e o pensamento para pensar os desafios contemporâneos da relação entre corpo, literatura e política na contemporaneidade: Yvonne Rainer e Mathilde Monnier. Nos anos 1960 a coreógrafa, cineasta e escritora americana Yvonne Rainer estava pensando modos de colocar o corpo em cena no qual este não estivesse submetido à um sistema de significações que lhe eram exteriores. Quarenta anos depois de sua composição, a coreógrafa faz a autocrítica do seu desejo de construção, nos anos sessenta, de uma presença neutra do performer em cena na palestra proferida no Rio de Janeiro, em 2006 intitulada Where’s the Passion? Where’s the Politics? or How I Became Interested in Impersonating, Approximating, and End Running Around My Selves and Others’, and Where Do I Look When You’re Looking At Me? A questão foi lançada por uma aluna de Patrícia Hoffbauer, bailarina e professora do Departamento de dança de Yale University. A aluna lançou a questão após assistir a um vídeo da emblemática coreografia de Rainer Trio A, criada em 1966. Recusando o virtuosismo ou a expressividade do movimento, Rainer impossibilita a construção de qualquer linha narrativa ou de dramaticidade através da dança. No entanto, como comenta na palestra de 2006, esse vínculo entre corpo e identidade não se desfaz através do ideal de uma neutralidade assubjetiva do performer. Há sempre um “eu” que insiste em ocupar a cena. Como então problematizar essa questão? Em 2005, a coreógrafa francesa Mathilde Monnier e o filósofo francês Jean-Luc Nancy escrevem o livro Allitérations no qual discutem temas relativos aos modos de produção de sentido através corpo. A esse respeito Nancy reconhece no corpo que dança um lugar por onde o sentido escapa: “Le corps c’est le lieu par ou le sens s’échappe”. Problematizando essa afirmação, Monnier dizia que em seu trabalho tinha o desejo de pensar como a dança poderia se articular com questões políticas e subjetivas que a cercavam, nesse processo de esvaziamento do sentido. Agenciar essas questões com o corpo em movimento era para Monnier o grande desafio da dança (Nancy, Monnier,2005:20). É possível notar nesse desejo de pensar em um modo de relação entre corpo e política que não submeta o primeiro a um sistema de discursividade normativa, mas que ao mesmo tempo possa manifestar inquietações políticas e sociais, um prenúncio da explosão de corpos insurgentes que tomaram as ruas do mundo a partir dos movimentos de ocupação dos anos 10 do presente século. O desejo de ocupar espaços públicos com corpos excluídos do sistema político coexiste com a necessidade de reinventar a sua relação com a linguagem. Escapando às capturas autoritárias da arte engajada, mas capaz de resistir aos ditames normativos da onda conservadora do capitalismo contemporâneo. A literatura oferece uma resposta possível para esse impasse? Através dessas questões o trabalho pretende pensar nos desafios contemporâneos que a noção de engajamento enfrenta.
Palavras-chave: CORPO, LITERATURA, POLÍTICA, ENGAJAMENTO
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