Anais
RESUMO DE ARTIGO - XV ENCONTRO ABRALIC
ESCRITA EM MOVIMENTO
LIA DUARTE MOTA
Este trabalho pretende desenvolver um conceito de escrita performática, entendendo-a como uma escrita composta com o corpo, como experimento realizado na estrutura do texto e em sua forma, na recriação da sequência frasal e de sua pontuação, de modo a reverberar no sensível e afetivo antes de ser capturada pela representação, pois é na tentativa, no experimento, que o corpo aprende algo novo. Uma escrita performática só é possível após o questionamento dos limites da arte e a dissolução de barreiras entre o pop, o marginal e a arte estabelecida. Artistas como José Agrippino, Lygia Clark, Luiz Ruffato e Paulo Nazareth, em seus trabalhos, parecem expandir a noção de arte ao experimentarem com os limites impostos pelas áreas nas quais atuam. Luiz Ruffato chama "Eles eram muitos cavalos" de instalação. Paulo Nazareth propõe uma peregrinação pela América Latina, Notícias da América, uma residência móvel, uma arte de conduta. José Agrippino desenvolvia happenings ou, como preferia nomear, teatro rock. Lygia Clark interessava-se pelo “ato imanente realizado pelo participante”. A partir de tais percepções, parece produtivo explorar como a escrita textual, em "PanAmérica" e "Eles eram muitos cavalos", reverbera no corpo físico que a lê para além de seu corpo da linguagem, e como os trabalhos "Caminhando", "Notícias da América" e "Aqui é arte", que colocam o corpo em ação e o ato como trabalho, tocam a escrita textual. Parte-se, aqui, da proposta de escrita como movimento. Movimento dos dedos, das mãos, antebraço, ombro, até que se chegue ao tronco, centro do corpo. Principalmente, movimento do pensamento. Não se trata do binômio mente-corpo, imaginado pelos cartesianos. O pensamento se desloca. Desloca-se pelo corpo até chegar à folha branca do papel, podendo ser originado em qualquer parte dele. O pensamento, esboçado no papel, torna-se escrita. O movimento desta pede um esforço originado no centro do corpo que se espalha pelas extremidades. Por isso, trata-se de um esforço no sentido de espalhar. A escrita é um movimento de espalhamento. Ela se dissemina. Movimentos são formas de expressão. Rudolf Laban, dançarino e coreógrafo, compreendeu que os movimentos são realizados por impulsos internos. O corpo produz um esforço que os origina e define a sua singularidade. O esforço pode ser percebido, pode ser visto, ouvido, tateado. É composto por tensões musculares e formas espaciais variadas. Como corpos são diferentes, os movimentos são únicos. Assim, quando realizam um movimento, os homens se distinguem. O corpo está sempre em movimento, mesmo quando parece parado. O fisiologista John Basmajian, no século XX, descobriu que não era preciso um feedback (uma demonstração visual) para que as pequenas unidades do corpo entrassem em movimento, bastava colocar a atenção em determinada parte do corpo para que a musculatura ganhasse tonicidade. Pensar, portanto, produz movimento. Assim, esses trabalhos produzem uma experiência transformadora, que causa sensações físicas e emotivas, ativa-as no corpo todo. Coloca-o em prontidão, mesmo o corpo deitado que lê, pois produz movimentos, ainda que bem pequenos e só internos, invisíveis no exterior, produz pensamento que o circula.
Palavras-chave: ESCRITA, PERFORMANCE, CORPO, MOVIMENTO
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