O corpo da mulher e o controle rígido exercido sobre ele, pelas mais diversas instituições, históricas ou atuais, com consentimento ou não, é assunto que não se esgota, sobretudo num momento em que os (poucos) direitos arduamente conquistados, tem rapidamente esmaecido em golpes de caneta e retrocesso. Publicado no ano de 2012, o livro de poesias Um útero é do tamanho de um punho é dividido em 7 sessões de tamanhos diversos que já trazem em seus títulos questionamentos sobre a vivência da mulher contemporânea e sua luta contra os estereótipos determinados por uma tradição misógina e que seguem necessitando de problematização. Nos poemas agrupados sob os títulos: Uma Mulher Limpa, Mulher de, A Mulher é uma Construção, Um útero é do tamanho de um punho, 3 poemas com o auxílio do Google , Argentina e O Livro Rosa do Coração dos Trouxas, Angélica Freitas discute com ironia, humor e sagacidade uma série de normatizações aplicadas ao corpo das mulheres, ainda hoje. O objetivo desta comunicação é, a partir da leitura de pequenos trechos destas poesias, analisar o controle ainda exercido pela sociedade sobre o corpo feminino, perpassando por problemas como sanidade/ insanidade, padrões de beleza e a luta para alcançá-los, o corpo da mulher nas relações afetivas, sociais e profissionais, a construção e naturalização do que é ser uma mulher, a autonomia da mulher contemporânea, as relações nem sempre (im)possíveis com a maternidade, a inserção da tecnologia dos mecanismos de busca (Google) como reprodutores de um pensamento estereotipado, e por fim, suas relações amorosas, espaço primeiro de questionamento e busca pela libertação dos papeis de gênero. Os papeis de gênero aqui não se restringem aos estudos feministas e de mulheres, mas também se aplicam às formas fluídas utilizadas pela poeta em relação ao gênero textual utilizado para demonstrar o pensamento muitas vezes misógino de uma sociedade que pode ser verificado inclusive em mecanismos de busca como o Google. As análises dos papéis de gênero e suas tentativas de ruptura serão embasadas pela crítica feminista, seguindo uma linha de pensamento que parte do Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, passando pelas teorias sobre noções de gênero e construção presentes em Tendências e Impasses, de Heloísa Buarque de Hollanda, A História da Sexualidade, de Michel Foucault até chegarmos nos Problemas de Gênero, apresentados por Judith Butler.
Palavras-chave: CORPO, ESTUDOS DE GÊNERO, ESTUDOS FEMINISTAS, POESIA