Tomando como ponto de partida a proposição de Foucault sobre a homossexualidade constituir outra forma de estar no mundo, um modo de vida atrelado a práticas e éticas específicas, este estudo busca analisar alguns textos do poeta Al Berto considerando não apenas sua existência repleta de sensibilidade (entende-se, aqui, “sensibilidade” a partir da semântica proferida por Denilson Lopes: um repertório compartilhado por um grupo e que inclui valores éticos, mitos estéticos, afetivos, entre outros), mas a realização de uma estética onde o corpo gay/queer é delineado e construído tendo em vista uma textualidade que convoca o sexo e o posiciona no discurso. Essa comutação entre corporeidades aparentemente estanques – o corpo que escreve e o corpo do texto escrito – põe em voga a relação entre a sexualidade marcada pela diferença (o gay/queer) e a homotextualidade, isto é, a textualidade marcada pelo sexo. A partir desse encontro, a análise textual terá seu início, importando pouco uma leitura em relação ao contexto literário e bem mais em relação à subjetividade do poeta, que foge às representações tradicionais do corpo ao inserir corporeidades que protagonizam sexualidades marginalizadas e identidades invisibilizadas. Por meio da permuta do texto com o corpo que o escreve a vida sofre a ficcionalização, em outras palavras, transforma-se em escrita literária, possibilitando o uso de diferentes artifícios de escrita que, em Al Berto, vão desde a rasura da noção de autoria, passando pelos corpos que se pavoneiam, até a possibilidade de deambulação pelos espaços narrativos e a polifonia que provém de diversas identidades textuais. Desse modo, o presente trabalho intenta fazer uma análise dos textos de Al Berto enfatizando o sujeito de escrita que se assume enquanto ser sexuado e cujo texto abarca elementos particulares condicionados por sua sexualidade.
Palavras-chave: HOMOTEXTUALIDADE, LITERATURA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA, AL BERTO, CORPOREIDADE